quarta-feira, 22 de setembro de 2010

AMAR DE NOVO


Todos nós, pelo menos uma vez na vida, encontrámos alguém, que nos fez parar para pensar. Situações verdadeiramente inesperadas, que podem mudar, radicalmente, o rumo da nossa vida. E, por isso mesmo, quantas vezes nos questionámos, com o intuito de encontrar uma explicação, um sentido. Pensámos, analisámos, avaliámos prós e contras...
O que nos pareceu, à priori, fácil, tornou-se difícil... o que nos pareceu difícil e complicado, veio a revelar-se simples. E isto aconteceu-nos vezes sem conta.
O nosso instinto, aliado à experiência de vida, dá-nos directrizes sobre o que fazer, perante as tais situações inesperadas. E começamos, quase de modo inconsciente, a fazer uma triagem, após a qual tomaremos uma atitude, faremos uma escolha, seguiremos um rumo.
Mas, como em tudo na vida, a voz do coração quase nunca coincide com a voz da razão. E, quando se trata de sentimentos, tudo se complica...
O medo de nos deixarmos amar existe na realidade. Resistimos perante o desejo. Todos desejamos viver um grande amor, nem todos somos capazes de o viver.
Ao aceitarmos tal condição, de ser amado e de amar, teremos, obviamente, de aceitar tudo o que ela implica. Estaremos, realmente, dispostos a correr tais riscos? O risco de vir a sofrer, o medo de falhar, a capacidade de fazer cedências...
Quando iniciamos uma nova relação, será que arrumámos, definitivamente, dentro de nós, todos os aspectos negativos da relação anterior? Estaremos dispostos a entregarmo-nos a essa nova relação, fugindo de uma certa tendência, humana diria, de comparar pessoas? Será que estaremos à altura de amar o/a outro/outra, com total isenção, sem deixarmos os «ses» e os «mas» interferirem no nosso caminho?
Todos temos medo de sofrer, apesar do sofrimento fazer parte da vida e do nosso crescimento, como pessoas. É ou não verdade que, quando ficamos sós, depois de uma relação terminada, dizemos: «nunca mais» ou «nem tão cedo me meto noutra». Isto, evidentemente, quando não agimos com leviandade... e exigimos de nós uma atitude de introspecção.
Também é verdade que, quando ficamos sós, quase sempre nos focamos noutros interesses, tentando desviar a atenção para áreas que, de alguma forma, preencham o vazio pela ausência de um companheiro ou companheira. Com isto, não quero de forma alguma dizer que, quando temos alguém ao nosso lado, deixamos de fazer o que gostamos ou desejamos. O nosso espaço individual deve ser sempre mantido, numa vivência de partilha. O que pretendo realçar é, tão somente, que alteramos hábitos, estabelecemos prioridades onde, por vezes, uma nova relação não tem lugar.
Essas prioridades tornam-se rotinas, ficamos preguiçosos, individualistas, achando até que perdemos a capacidade de amar - puro engano! O racional e o emocional entram em desequilíbrio. Para que tudo volte à normalidade e a vontade de amar renasça, há que quebrar as barreiras do comodismo que deixámos instalar dentro de nós, não termos medo de arriscar, criando um novo espaço para deixar entrar o pulsar do amor.
Ninguém nasce para viver sozinho. Precisamos de amar, tal como precisamos do ar para respirarmos.
O que é essencial na vida de cada um de nós, o que perdurará enquanto a percorremos, o que nos une e nos fará felizes, são os laços do amor e da amizade que conseguimos estabelecer  uns com os outros. Tudo o mais, é acessório.

Autora: Isabel Vilaverde
Setembro de 2010
(@Todos os Direitos Reservados).

Imagem: Google.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

FALA-ME DE TI...




Fala-me de ti, da tua solidão. Tenho de perceber se ela é igual à minha. Fala-me das tuas vitórias e das tuas derrotas. Fala-me dos momentos intensamente vividos, das alegrias sentidas, dos caminhos errados que percorreste, dos medos, das frustrações. Fala-me de ti, para eu perceber que não estou só.
Sei que precisas de tempo e de silêncio para te encontrares, eu também. Cruzámo-nos por um acaso, uma feliz coincidência ou não e, na nossa solidão, partilhamos as vidas, ainda que distantes pelas barreiras físicas, mas perto, bem perto um do outro. Tu e eu vivemos, nesta solidão partilhada, menos sós.
Fala-me de ti, do que ainda queres ser. Não importa o que tu e eu fomos, mas sim o que somos. Para ti e para mim, tem de existir amanhã. Não podemos viver aprisionados pelo medo de não conseguirmos. Para quê levantar barreiras dentro de nós? Essas são as mais perigosas e difíceis de demolir, tu sabes.
Já experimentámos a dor. Já cruzámos caminhos, mares, outras vidas, já sonhámos ideais. Por tudo isso somos hoje mais do que fomos. Um cúmulo de aprendizagens e de sabedoria. Somos audazes, perante as adversidades, e capazes de destrinçar o bem do mal. Sabemos o que queremos, o que nos faz bem e nos permite avançar. Por isso escolhemos o nosso caminho. A reflexão deverá estar sempre presente nessa escolha, ao pretendermos ir ao encontro do verdadeiro sentido da vida.
A vida é uma só estrada, por todos percorrida, longamente ou em tempo breve. Nela, encontramos dor, amor, amizade, solidariedade, cumplicidade, partilha; pilares que nos humanizam e nos tornam grandes. Mas também encontramos ódio, indiferença, crueldade, mentira, arrogância; tudo o que nos torna monstros com forma humana.
Uma palavra dita, um gesto, mostrados de forma especial, farão a diferença. Marcarão, para sempre, a nossa memória e as nossas vidas.
Fala-me de ti, meu amigo. Deixa que o Sol te inunde o coração. O meu está pronto para te acolher, tranquilamente. Guarda a solidão que precisas para te encontrares, e partilha comigo aquela outra que te magoa. Tenho todo o tempo do mundo.


Com amizade...
Isabel Vilaverde
(dedicado a um amigo
em sofrimento).
20 Setembro 2010






sábado, 18 de setembro de 2010

UM DIA... LÁ LONGE


Vivo algures...
Entre a morte do dia e o raiar da aurora,
Morro algures...
Num sorriso escondido, nuns olhos que gotejam,
No tempo esvaído, na poesia contida nas palavras que te não digo.
Grita a alma a sede de amar...
No vazio dos braços meus os teus para aconchegar.
Parte barquinho de papel... navega esse mar de sal,
Encontra o tempo perdido e traz-me o amor outrora vivido.
Não deixes morrer no vento que sopra a minha vontade de ser...
Outras Primaveras tenho ainda para renascer,
Outros beijos ardentes para dar e receber,
Histórias e memórias para contigo dividir.
Acorda em mim o sorriso povoado de silêncios,
Pare em mim o sonho de um amor que há-de surgir,
E nos meus poentes de Outono abre janelas de rosas a florir.
Não me deixes morrer na solidão das horas...
Pousa nos meus lábios  os teus beijos meigos,
Devolve aos meus olhos o brilho rutilante das estrelas,
O encanto dos dias a sorrir.
Um dia... lá longe quando o silêncio a minha boca invadir
E os meus passos lentos os teus não acompanharem,
Um dia... lá longe quando a noite chegar fria e o meu coração tocar,
Que seja branda a dor que trouxer,
Que sinta a tua mão o meu rosto afagar,
O teu abraço terno o meu corpo envolver,
E o teu doce beijo os meus olhos fechar.

Written by: Isabel Vilaverde
Setembro 2010



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

ROSA AMARELA



Meu vulcão de lava escorrendo sobre as colinas do desejo,
Minha lágrima esquecida que desces lenta o leito do rio,
Minhas mãos oferecidas à morte e à vida,
Fronteira distante onde espero o beijo...
Devagar fecho a janela aos odores da Primavera,
Ensaio um último passo ao teu encontro...
Perco-me no labirinto do tempo.
Sabes... Deixei de tocar as estrelas ao olhar o firmamento,
Perdi-me das flores, da brisa, do mar,
Dos montes e árvores, do Sol, do luar...
Dos pássaros de fogo que voaram nos meus braços,
E de ti, dos teus abraços.
Reinvento os dias sempre iguais...
Já não sinto a emoção de te amar,
Deixaste o vazio em seu lugar.
Um dia partirei com os ventos invernosos,
Se te lembrares de mim, sim, se te lembrares...
Deixa uma rosa amarela a perfumar a minha lápide,
A rosa que foi nossa!

Written by:Isabel Vilaverde
Setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

NO LIMITE DOS MEUS OLHOS ( A SETÚBAL)


É tão bom mirar-te
Na ausência das vozes
Silenciadas ao cair da noite...
De dia, cidade  imponente,
Plena de cores e aromas
E ritmos de gente.
As luzes, amarelecidas,
Dos candeeiros curvados,
Vestem-te o negrume da noite,
Recortam-te os montes,
Os prédios altos circundantes,
O rio de águas mansas,
As tuas fontes de mágoas transbordantes.
Tudo é paz, tudo dorme...
Observo, no limite dos meus olhos,
Bordado a estrelas
O negro manto que te cobre,
Encontro-te no canto lírico, no Teatro,
Nos pintores e poetas imortais,
No extenso laranjal,
No vinho e nos doces regionais,
No teu estuário de águas mansas,
Setúbal, cidade de mil encantos,
Também são meus os teus ais.

Autora: Isabel Vilaverde
(@Todos os Direitos Reservados).
Setembro de 2010

Imagem: Google.



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

NO SAL DA TUA BOCA


Um beijo, um abraço
Um espaço sem tempo,
Um tempo sem espaço,
Uma lágrima morrendo
No sal da tua boca,
Um olhar de emoção,
Uma mão que se toca...
Um suspiro perdido
No teu mar de desejo,
Um sussurro ao ouvido
A pedir outro beijo...
Os dedos que passeiam
Pelas margens do meu corpo,
Os lábios que se unem
Num cálice de fogo,
Os braços que se enlaçam
Num abraço longo...
Os corpos que se amam
No despertar da aurora,
Uma brisa que se sente,
Um gesto que demora...
O vazio que se preenche,
A dor que se esquece,
A solidão que se vence,
O sonho que acontece...
Um porto-de-abrigo
Enfeitado de barcos e luar,
Um poema dito
No infinito do verbo amar.

Written by: Isabel Vilaverde
Setembro 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

VIDAS DESENCONTRADAS



Murmura  minha alma,
Lembrando-me beijos arrebatados,
Olhares e silêncios dos nossos corpos enlaçados,
Feliz esse tempo que a memória guarda,
Descanso os braços na saudade dos teus,
E no parapeito alto da minha janela
O olhar distante brilha no fulgor da noite,
Pintando pedaços de um sonho na tela.
Que linda a Lua... tão alta no céu,
Será que viste passar o amor que foi meu?
Plena vais ficando... Tão iluminada,
Desinquietas-me o sono oh noite estrelada.
Um véu de lágrimas vou tecendo,
E a brisa suave, neste fim de Agosto, meu rosto beijando.
Se estivesses aqui comigo, amor, de braços em meu redor,
Meus lábios te ofereceria e versos intensos te escreveria
Declamados na dança dos nossos corpos.
Foste ponte erguida  sobre as margens do meu ser,
Se estivesses aqui comigo, amor... Murmura minha alma tão pura,
E esta saudade imensa que em meu peito perdura.

Written by: Isabel Vilaverde
Agosto 2010


Imagem: Autor desconhecido.

 
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