quarta-feira, 28 de junho de 2017

LOBO SOLITÁRIO

 


   Não estou certamente enganada. É um lobo solitário. Almoçou, tranquilamente, sentado a uma mesa ao lado da minha. Sujeito de compleição magra, face enrugada e cabelo grisalho. Estatura mediana e olhar inquieto. Meneia a cabeça muitas vezes, demasiadas vezes, e gesticula, creio, sem se dar conta. 
   Hoje almoçou lombo assado com batatas fritas e arroz, dose a dobrar de hidratos de carbono, o habitual dos almoços à pressa, entre horas de trabalho e bebeu uma imperial. Rematou o almoço com uma mousse de chocolate. 
     Levantou-se, em seguida, dirigindo-se à saída sem que, antes, num gesto mecânico e ainda dentro do snack-bar, tenha acendido o maldito cigarro. Certamente um prazer do qual não prescinde, haverá anos, mas que me incomodou quando o cheiro a nicotina me chegou às narinas, aprimoradas na detecção do mais indelével indício do repudiado tabaco. Abriu a porta e, de cigarro ao canto da boca, saiu meneando a cabeça, sem dúvida um tique adquirido por anos de solidão...
     É um lobo solitário, entre uma matilha de indiferentes onde se fala,  se gesticula, se passa ao lado da vida, por vezes, num viver de ilusão, onde todos, à maneira de cada um, permanecemos escondidos dentro das nossas próprias conchas. 
     Talvez este lobo solitário esteja mais próximo de Deus e da sabedoria do mundo. 


Autoria do Texto: Isabel Vilaverde
28-06-2017
(@Todos os Direitos Reservados). 

Imagem: Google.


 
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