sexta-feira, 27 de setembro de 2013

EXISTIR



Gosto de desarrumar as ideias,
Não gosto de me acomodar às coisas,
Gosto da noite mais do que do dia,
Do silêncio que se instala fora e dentro de mim
E do caos por onde tantas  vezes passeio...
Gosto de percorrer o espaço que existe entre
mim e o nada,
E o espaço que existe entre o nada e as palavras.
Prendo com as mãos os cabelos, inclino a cabeça
ao encontro da brisa que leve me acaricia,
Deixo entrar o cheiro da noite em mim,
E os olhos fixam-se no infinito manto iluminado,
Sinto-me una com ele.
Existe um diálogo entre nós, uma cumplicidade que
se adivinha quando nos olhamos.
É este fascínio que não encontro no dia,
O dia rouba-me a intimidade... consigo ser
um pouco feliz quando inalo o perfume das flores,
ou vejo crianças a brincarem e a construírem
um mundo melhor. É preciso pureza para o construir.
Então a outra metade de mim sorri.
Não gosto do bulício das cidades, nem das vidas
desfeitas que habitam nelas.
Não gosto das ilusões que o dia traz.
À noite tudo se acalma... até mesmo as pessoas más
adormecem.
Subtraio da noite o que o dia não me dá.
Paz e silêncio é tudo o que preciso para me encontrar,
Para esbater as mágoas, para EXISTIR.


Autora: Isabel Vilaverde
Setembro 2013
(@Todos os Direitos Reservados).

Foto: Autor desconhecido.





terça-feira, 24 de setembro de 2013

SOSSEGO... DESASSOSSEGO



Só haverá sossego... quando o meu coração sossegar,
Quando a fonte deixar de correr no meu corpo,
E a noite o brilho dos meus olhos roubar.
Só haverá sossego... quando o desassossego desta
mágoa no meu peito abrandar,
E o silêncio for apenas silêncio sem memória para lembrar.
Só haverá sossego... quando o marulhar do tempo for leito
de esperança a transbordar,
Quando o caminho for trégua, vento de mudança,
Quando o poema se escrever na brisa de um olhar,
E eu me erguer das palavras para te sentir como um beijo de sol,
num oásis de bonança!

Autora: Isabel Vilaverde
24/09/2013
(@Todos os Direitos Reservados).

Foto: Autor desconhecido.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

UM POEMA A ANTÓNIO RAMOS ROSA (17/10/1924 - 23/09/2013)



Assim nos vamos despindo
De tudo o que dá sentido à vida,
Neste espasmo de madrugadas ocas,
Nesta lonjura do tempo sem medida.
Escrevem-se palavras no silêncio,
Claridade de um céu que nos veste a alma.
Fica em nós um fio de voz... um breve rumor.
Um vento de saudade sopra choroso.
Sempre que um poeta morre,
Ouve-se um grito de dor.

Autora: Isabel Vilaverde
23/09/2013
(@Todos os Direitos Reservados).

Foto: Autor desconhecido.


sábado, 21 de setembro de 2013

AMANHÃ NÃO SEI



Cai o crepúsculo sobre a cidade.
Semicerro os olhos de encanto à luz que se desvanece.
Ao longe os montes são uma mancha escura
na distância do olhar.
Na rua as pessoas caminham sem pressa de caminhar.
As árvores agitam os ramos ao leve sabor da brisa,
enquanto esperam a noite.
Espraio no sonho a força de amar todas as coisas, a vida!
Amo hoje como perdida!
Porque amanhã não sei se em mim ainda haverá luar.

Autora: Isabel Vilaverde
21 de Setembro de 2013
(@Todos os Direitos Reservados).



http://www.youtube.com/watch?v=X8rnBhJX6xE

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

EM HOMENAGEM A URBANO TAVARES RODRIGUES (06/12/1923 - 09/08/2013)



     
        Por vezes o tempo dilui-nos, engole-nos numa pressa e, apesar do querer, ficam as palavras silenciadas, fora de tempo, por dizer.
        Um pedido de desculpa sincero à minha amiga, Isabel Fraga, pelas palavras tardias. As minhas sentidas condolências pela perda inestimável de seu pai, o Grande Escritor Urbano Tavares Rodrigues.
        A Cultura deste pequeno Grande país ficou mais pobre. Perante o findar da vida, que a todos é transversal,
o Escritor deixa uma vasta Obra publicada, onde espelha, claramente, o seu posicionamento contra os regimes totalitários que o conduziriam, numa luta consciente, à prisão em Caxias, durante a vigência da Ditadura de Salazar, e a um longo exílio, em França, até ao seu regresso após o 25 de Abril de 1974. A sua ousadia e frontalidade, valeram-lhe o impedimento de trabalhar, como professor, durante o Estado Novo. Ainda muito jovem, Urbano Tavares Rodrigues, atento e observador do que o rodeava, apercebeu-se das diferenças sociais, nomeadamente, da desigualdade e diferença de tratamento da classe trabalhadora mais humilde. À medida que foi crescendo, desenvolveu-se nele uma consciência e preocupação cada vez maiores, que o levariam a uma profunda reflexão da sociedade na qual estava inserido e a posicionar-se, ideologicamente, à esquerda. A sua convicção assentava numa esquerda humanizada e visionária de como deve ser e viver uma sociedade, cujo bem-estar de cada cidadão é essencial e este critério deveria ser uma das preocupações dos Governos. Infelizmente, e não obstante todo o desenvolvimento tecnológico, as sociedades caminham para o seu inverso, num afunilamento cada vez mais visível, entre os direitos e deveres dos cidadãos, acentuando-se as desigualdades sociais, com a implementação de políticas desastrosas, e criando um fosso, cada vez maior, entre os muito ricos e os muito pobres.
        Urbano Tavares Rodrigues viveu o bastante para alertar, através da sua Obra, para essa falta de humanismo, de tolerância e de preocupação social, afecta aos Governos de cariz neo-liberal.  É impossível dissociar do Homem e do Escritor a sua imensa generosidade e humanismo. Sempre fiel às suas convicções ideológicas, qualquer adjectivação pecará por ser insuficiente face à grandeza e dimensão humanas, que caracterizaram este Grande Senhor da Literatura. Direi mesmo que Urbano Tavares Rodrigues é a sua Obra. Mais uma vez, num acto reiterado que me reporta a um passado recente, acontecido com o nosso Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, penso que o Governo se "esqueceu" de prestar a devida e merecida homenagem ao Escritor, Jornalista, Ensaísta, Crítico Literário e Professor de Literatura. Sabem-se, sobejamente, os motivos... É lamentável verificar a enorme incapacidade latente nos Governos de Direita, como o Governo que actualmente governa Portugal, em lidar com a frontalidade de quem se posiciona à esquerda. Acima de qualquer ideologia, deveria estar o saber reconhecer e enaltecer as qualidades de um indivíduo, quer ele seja Artista Plástico, Músico, Actor ou Escritor.
        A Cultura incomodou sempre os Governos Ditatoriais, como este que nos governa, actualmente. Estes parecem não querer entender, num acto de pura conveniência, que a Cultura é o alimento espiritual de um Povo. Um Povo inculto é como se vivesse privado da luz. É facilmente manipulado e vive na ausência de um espírito crítico. A crítica é, indubitavelmente, o motor essencial e impulsionador do progresso, quer individual quer colectivo. Na ausência da informação e da formação, qualquer Sociedade regride e escraviza-se. É preciso que o diálogo e a reflexão se façam. Governos de índole ditatorial, ainda que se vistam de roupagens a aparentar uma postura democrática, enfermam por uma espécie de "complexo de inferioridade", usando e abusando de poderes que não lhes foram conferidos, aquando da sua eleição, para, a todo o custo, implementarem medidas anti-sociais, baseando-se em critérios falaciosos, numa politiquice, desculpem-me a crueza do termo, de meia-tigela, manipulando, ardilosamente, mas sem engenho nem arte, e procurando fazer crer que toda a acção empreendida é necessária para um bem-estar colectivo.
        Urbano Tavares Rodrigues naturalmente com grande sentido de oportunidade, elevação e humildade, revela qualidades de grande humanista e aborda, em parte da sua Obra, a temática, incómoda, dos podres de uma Sociedade regida por lobbies, corrupção e manipulação, com consequências nefastas para os cidadãos. O Escritor esteve sempre ligado ao Partido Comunista Português. Foi um Homem determinado, de convicções fortes e inabaláveis. Existem pessoas que passam pela vida sem deixarem qualquer marca. Existem outras que pelo seu percurso, perseverança e nobreza de carácter, se tornam inesquecíveis e um exemplo para as gerações futuras. Cabe a cada um de nós manter viva a sua memória. É na maturação das ideias e na capacidade de diálogo, no humanismo, na compaixão e na solidariedade, que se consegue congregar as Sociedades e direccioná-las no caminho da evolução humana, independentemente das ideologias ou das crenças religiosas. Tenho a profunda convicção de que Portugal perdeu um dos maiores insignes vultos da cultura literária portuguesa contemporânea. Tudo o que se possa dizer ou escrever sobre este trabalhador acérrimo da palavra, ficará sempre aquém do riquíssimo exemplo humano que nos legou através da sua Obra. Uma das melhores formas de o homenagearmos será, indubitavelmente, lê-la. Por último e o mais importante de tudo o que escrevi, são as palavras do Escritor, já em guisa de despedida antecipada, palavras que fazem parte do seu último livro, "Nenhuma Vida", que será lançado para assinalar os seus noventa anos, e que abordará diferentes temáticas e olhares sobre a sua vida e Obra. 

"Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhado adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres. Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me e tudo será luar." 



Autora do texto: Isabel Vilaverde.

17 de Setembro de 2013
(@Todos os Direitos Reservados). 

Foto: Obtida através do Google.





quarta-feira, 11 de setembro de 2013

IN MEMORIAM - 11 de Setembro de 2001 - Doze anos depois


        Doze anos depois, a angústia da perda transformada em saudade. A saudade que é agora rochedo no coração de todos os que ficaram privados dos sorrisos, dos gestos e dos abraços, da alegria de viver dos filhos, pais, cônjuges ou amigos. Os anos passaram mas não apagaram as imagens nem a dor  do momento que sonegou, horrificamente, mais de três mil vidas, em escassos minutos, no World Trade Center, em Nova Iorque.

        Tempo longo para uma reflexão profunda sobre o mundo em que vivemos, sobre a sociedade que somos, sobre os caminhos que se percorrem e os motivos que nos levam às nossas acções.
        Vagueamos todos, um pouco, ao sabor dos interesses dos Governos, das oligarquias que os submetem, de regimes corporativos, numa sociedade neo-liberal, em que somos meros peões, numa mesa de xadrez, de um jogo viciado. Somos expectadores de tanta e tanta corrupção que conduz esta sociedade, cada vez mais podre e doente, em que vivemos. O espectro da fome e da miséria subsiste. Vendem-se armas, armamento cada vez mais sofisticado, gastam-se milhões a aperfeiçoar a forma de aniquilar os países, os povos e as culturas ancestrais, em nome de "Alá", da "Liberdade", da "Igualdade", da "Conquista territorial", do "Petróleo", do "Gás natural".

        Ainda não vi ninguém guerrear-se, somente, com as armas da Razão, para que os valores civilizacionais e o respeito entre povos, nações e culturas, fossem defendidos. Somos todos, sem excepção, marionetas neste jogo do poder. Trabalhamos, por vezes, que nem escravos, almejamos bens de consumo excessivos num perfeito exercício de egocentrismo e vaidade, endividamo-nos para mantermos este jogo de aparências, porque a sociedade é redutora, marginaliza e ostraciza... Criamos expectativas, desperdiçamos energias que bem poderíamos canalizar para cimentar valores de maior proximidade, de altruísmo e compaixão. Valores, esses, que nos tornariam, por certo, mais felizes e mais felizes tantos outros seres.
        Depois de todo este percurso que fazemos, damo-nos conta de que a vida se esvai, de um momento para o outro, que não somos donos de nada, que nada levamos quando perecemos, e quão inútil foi tudo o que, avidamente, quisemos possuir, numa total ilusão do poder!
        O Mundo está cheio de vítimas da ganância do Homem. O Ser Humano é o maior dos predadores do Planeta. Investe, estupidamente, na sua própria destruição. A memória colectiva não se pode nunca apagar...
O passado deve permanecer como um marco, como uma ferida que cicatriza e que nos deveria ajudar a compreender melhor o presente e a construir, com solidez, o futuro (se é que existe...), não reiterando nos mesmos erros, pois parece-me doentio.

Autora: Isabel Vilaverde
(@Todos os Direitos Reservados).
11 de Setembro de 2013.

Foto: Google.



 
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