quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

NATAL 2013



        Mais um ano que chega ao fim, a festa de Natal que se avizinha para a comunidade cristã, e um novo ano prestes a iniciar-se. Com a entrada de 2014, ressurgirá a renovação da esperança nos corações de todos nós e os votos que cada um  formula serão intensos, para que os desejos mais recônditos do nosso "eu" se realizem.
        Angústias, desilusões, desesperança e frustrações, guerras e lutas, pessoais e políticas, perdas de vidas e danos irreversíveis são o saldo negativo que fica desta passagem cíclica. Mas também com ela ficam vitórias saboreadas, sorrisos, amores iniciados, vidas que nasceram de outras vidas e que trouxeram um brilho especial e a esperança de um futuro melhor para a Humanidade.
        Natal é para mim sinónimo de dádiva, de amor e de compaixão pelo próximo, materializado nos gestos de ajuda efectiva, longe da retórica e da propaganda de quem confunde solidariedade com caridadezinha, e aproveita esta quadra natalícia para ganhar notoriedade, num puro jogo de interesses e de vaidades. Os gestos que partem do coração dispensam qualquer tipo de publicidade. Quem os pratica prefere ficar no anonimato e  espera apenas que o retorno seja o bem-estar do seu irmão ou irmã, independentemente dos laços de consanguinidade. Como dizia John Lennon na canção "Imagine", "(...) A brotherhood of men (...)". Não só imaginemos como ajudemos todos a tornar esse desejo real.
        Quando acendo uma vela na noite de Natal, não o faço apenas com o objectivo de ornamentar a mesa e esta ficar mais bonita. Ao fazê-lo penso nos que, pelas vicissitudes da vida, estão privados de festejar esta quadra, e no sofrimento de tanta gente espalhada pelo mundo inteiro. Quantas vezes esse sofrimento é originado pela ganância e má-fé de quem não tem escrúpulos. Gostava que o espírito de Natal se mantivesse em todos nós ao longo dos doze meses do ano, para que os gestos de apoio e de ajuda ao próximo pudessem resgatar, da miséria e do infortúnio, os menos privilegiados e assim o bem se tornasse global, na verdadeira acepção da palavra.
        É sempre possível chegar mais longe e fazer melhor quando o Homem quer. Quando os nossos corações se enchem de bondade ganham uma força poderosa e impulsionadora para rasgar caminhos, procurar soluções e redimir erros cometidos. Podemos, pois, todos, sem excepção, fazer mais e melhor. O limite está somente no nosso pensamento. Quando nos conseguimos libertar dos limites que, por vezes, nos impomos, deixamos que os braços se estendam para amarmos o próximo. Nelson Mandela, um homem extraordinário, grande pacifista e humanista, de uma humildade extrema, disse que queria poder ser sempre melhor do que o melhor de si mesmo. Quando os conselhos são bons devem ser não só ouvidos como também seguidos.
        Façamos, cada um de nós, para ser melhor a cada dia e assim amarmos mais e melhor o próximo.
         
                                 UM SANTO E FELIZ NATAL PARA TODOS OS MEUS
                                                                     AMIGOS.

Autora: Isabel Vilaverde
19 de Dezembro de 2013

Imagem: Google.


                 


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

NÃO CHORES VAMOS VOLTAR


O pequeno Luís, uma criança de seis anos, olhava, incrédulo, os olhos da mãe cobertos de lágrimas densas que, rapidamente, se transformaram em torrente, lavando o rosto enrugado, precocemente envelhecido, de uma mulher de trinta e nove anos.
- Mãe, não quero ficar aqui. Porque é que tenho de ficar aqui? Não, quero ir contigo!
O menino, alheio ao drama dos pais, queria apenas poder estar com eles e brincar no seu pequeno e humilde espaço, o que sempre conhecera; a sua casa, o seu aconchego.  Os pais, ambos desempregados e com os subsídios de desemprego terminados, lutavam, todos os dias, para darem ao Luís e a mais três filhos o mínimo que lhes era possível para não passarem fome. O tempo de espera, sem conseguirem um trabalho, foi aumentando a angústia e forçando a tomada de decisões. Pouco a pouco a família foi-se separando. Os filhos, um a um, foram sendo distribuídos, quase como mercadoria, pela casa de outros familiares que, embora com fracos recursos também, os foram acolhendo. Ficou o mais novo, o Luís. Bateram a todas as portas. Fizeram o possível e o impossível para mudar a sua condição de desempregados. Sem apoios suficientes, restou-lhes tomar a única e dolorosa decisão. E hoje, estes pais, tomados de uma emoção inenarrável, percebiam que  não era possível ficar com o seu benjamim.
Fizeram o percurso, a pé, no mais pesado dos silêncios. Maria premiu o botão da campainha ao lado do portão de ferro da Instituição. Entraram, sempre com o Luís pela mão. Conduzidos a uma sala e depois de preenchidos os papéis, chegou a hora da despedida. Queriam muito que a separação, forçada, fosse breve. Queriam muito que a sua condição mudasse para que o menino voltasse, tal como os outros filhos, e se sentissem novamente uma família. Isto se o seu acto não viesse a ser considerado abandono de um menor aos olhos da legislação e não tivessem que, futuramente, lidar com toda uma máquina burocrática de leis, por vezes estúpidas e inúteis, que mais não seriam do que muros intransponíveis, erguidos sobre uma aridez total de sentimentos. Nunca iriam assinar um termo de adopção, nunca! Entregavam o Luís porque não queriam que passasse fome. Hoje separavam-se das suas traquinices, das suas tropelias, da sua vivacidade, da sua doçura e, sobretudo, do seu olhar que os marcaria para sempre, como ferro em brasa cravado na pele, no momento de o abraçarem e de lhe dizerem, de coração minguado pela dor : «Adeus meu querido filho, até breve. Amamos-te muito. Não chores, vamos voltar.».

Autora: Isabel Vilaverde
4 de Novembro de 2013
(@Todos os Direitos Reservados)


Imagem: Google.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

UM TEXTO DESNUDO COMO A MINHA ALMA



        E hoje é dia de lágrimas. Talvez julgues que são chuva no meu rosto, por se confundirem com os pingos que, indistintamente, caem, e eu até diga que sim ou melhor, nada diga, para te iludir o pensamento.
Todos os dias o tempo é diferente, embora os dias pareçam iguais. Estar, sair e voltar à mesma casa, aos mesmos lugares, dar os bons-dias ao homem do talho, ao dono da frutaria, à menina da caixa do supermercado ou ir tomar o habitual café ao sítio do costume. Aparentemente nada se modificou. É só mais um dia entre todos os outros já vividos e sê-lo-à, certamente, entre os que estão para vir. Mas todos os dias, nesta aparente monotonia da inalteração dos lugares e das coisas, o vazio vai-se instalando em mim.
        Acontecem mortes, as físicas, quando os amigos ou entes queridos partem, e as outras. As mortes da alma, do acumular de vazios e de lutos, que me vão tornando cada vez mais triste e insegura. Não sei se a experiência de vida que julgo ter me serve de alguma coisa. Por vezes penso que serve coisa nenhuma. Sinto que o tempo é um paralelo onde não me encontro mais. Não sei o que espero ou se até devo esperar. O tempo tem sido um padrasto, um carrasco, nas minhas horas de luta. O que me resta é tão pouco já. É cada vez menos. Hoje vivo de afectos. São o meu suporte, a única maneira que tenho para viver. Não haverão palavras que me confortem. Apenas sentires.
Se partires, eu vou também.

Autora: Isabel Vilaverde
18 de Outubro de 2013
(@Todos os Direitos Reservados).

Foto: Imagens google.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A CASA VAZIA



Eis a Sinopse do meu próximo romance, "A CASA VAZIA".

SINOPSE


Rafael é um jovem jornalista. Com um casamento feliz, sofre um duro golpe quando a sua mulher, Rita, adoece com leucemia. A doença conduzi-la-à, num curto espaço de tempo, à morte. Afastado de tudo e de todos, segue trilhos, revisita lugares, na tentativa de se reencontrar. Será que Rafael irá, um dia, apaixonar-se de novo? 
Regressado ao Jornal surge, pouco tempo depois, a oportunidade de ir em serviço para um campo de refugiados, no Quénia. Como será viver num campo de refugiados? Como irá reagir Rafael, ao ser confrontado novamente com o sofrimento e a morte?
A sua paixão pela fotografia leva-o, certo dia, até à sua praia favorita. Quando se prepara para fotografar, mais uma vez, o belíssimo sol poente sobre o mar, algo de inesperado acontece. Esse momento irá marcar e influenciar, completamente, a sua vida.
Rafael parte em serviço para a Síria de Bashar Al-Assad. Os acontecimentos precipitam-se quando, no decurso de uma reportagem, ele, uma jornalista japonesa e dois repórteres de imagem, são apanhados num fogo cruzado entre as tropas do regime e os rebeldes pró-democracia. Na abordagem de temas da actualidade política nacional e internacional, o romance levanta questões, disseca, explora e analisa, de forma sucinta, é certo, mas consistente, questões religiosas e territoriais, as quais fomentam o ódio latente entre povos, onde a palavra “tolerância” não tem lugar. A exemplo, a guerra israelo-palestiniana. Neste romance, desnudam-se vivências de cada personagem, testa-se o comportamento humano e os seus limites, face a um mundo regido pela lei do dinheiro e dos altos interesses materiais, em detrimento dos valores civilizacionais, da moral e dos afectos.
 Caberá a si, leitor, partir à descoberta, numa incursão prazerosa de leitura pelas páginas deste livro.

A Autora
Isabel Vilaverde.

Capa Provisória do Romance.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

EXISTIR



Gosto de desarrumar as ideias,
Não gosto de me acomodar às coisas,
Gosto da noite mais do que do dia,
Do silêncio que se instala fora e dentro de mim
E do caos por onde tantas  vezes passeio...
Gosto de percorrer o espaço que existe entre
mim e o nada,
E o espaço que existe entre o nada e as palavras.
Prendo com as mãos os cabelos, inclino a cabeça
ao encontro da brisa que leve me acaricia,
Deixo entrar o cheiro da noite em mim,
E os olhos fixam-se no infinito manto iluminado,
Sinto-me una com ele.
Existe um diálogo entre nós, uma cumplicidade que
se adivinha quando nos olhamos.
É este fascínio que não encontro no dia,
O dia rouba-me a intimidade... consigo ser
um pouco feliz quando inalo o perfume das flores,
ou vejo crianças a brincarem e a construírem
um mundo melhor. É preciso pureza para o construir.
Então a outra metade de mim sorri.
Não gosto do bulício das cidades, nem das vidas
desfeitas que habitam nelas.
Não gosto das ilusões que o dia traz.
À noite tudo se acalma... até mesmo as pessoas más
adormecem.
Subtraio da noite o que o dia não me dá.
Paz e silêncio é tudo o que preciso para me encontrar,
Para esbater as mágoas, para EXISTIR.


Autora: Isabel Vilaverde
Setembro 2013
(@Todos os Direitos Reservados).

Foto: Autor desconhecido.





terça-feira, 24 de setembro de 2013

SOSSEGO... DESASSOSSEGO



Só haverá sossego... quando o meu coração sossegar,
Quando a fonte deixar de correr no meu corpo,
E a noite o brilho dos meus olhos roubar.
Só haverá sossego... quando o desassossego desta
mágoa no meu peito abrandar,
E o silêncio for apenas silêncio sem memória para lembrar.
Só haverá sossego... quando o marulhar do tempo for leito
de esperança a transbordar,
Quando o caminho for trégua, vento de mudança,
Quando o poema se escrever na brisa de um olhar,
E eu me erguer das palavras para te sentir como um beijo de sol,
num oásis de bonança!

Autora: Isabel Vilaverde
24/09/2013
(@Todos os Direitos Reservados).

Foto: Autor desconhecido.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

UM POEMA A ANTÓNIO RAMOS ROSA (17/10/1924 - 23/09/2013)



Assim nos vamos despindo
De tudo o que dá sentido à vida,
Neste espasmo de madrugadas ocas,
Nesta lonjura do tempo sem medida.
Escrevem-se palavras no silêncio,
Claridade de um céu que nos veste a alma.
Fica em nós um fio de voz... um breve rumor.
Um vento de saudade sopra choroso.
Sempre que um poeta morre,
Ouve-se um grito de dor.

Autora: Isabel Vilaverde
23/09/2013
(@Todos os Direitos Reservados).

Foto: Autor desconhecido.


sábado, 21 de setembro de 2013

AMANHÃ NÃO SEI



Cai o crepúsculo sobre a cidade.
Semicerro os olhos de encanto à luz que se desvanece.
Ao longe os montes são uma mancha escura
na distância do olhar.
Na rua as pessoas caminham sem pressa de caminhar.
As árvores agitam os ramos ao leve sabor da brisa,
enquanto esperam a noite.
Espraio no sonho a força de amar todas as coisas, a vida!
Amo hoje como perdida!
Porque amanhã não sei se em mim ainda haverá luar.

Autora: Isabel Vilaverde
21 de Setembro de 2013
(@Todos os Direitos Reservados).



http://www.youtube.com/watch?v=X8rnBhJX6xE

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

EM HOMENAGEM A URBANO TAVARES RODRIGUES (06/12/1923 - 09/08/2013)



     
        Por vezes o tempo dilui-nos, engole-nos numa pressa e, apesar do querer, ficam as palavras silenciadas, fora de tempo, por dizer.
        Um pedido de desculpa sincero à minha amiga, Isabel Fraga, pelas palavras tardias. As minhas sentidas condolências pela perda inestimável de seu pai, o Grande Escritor Urbano Tavares Rodrigues.
        A Cultura deste pequeno Grande país ficou mais pobre. Perante o findar da vida, que a todos é transversal,
o Escritor deixa uma vasta Obra publicada, onde espelha, claramente, o seu posicionamento contra os regimes totalitários que o conduziriam, numa luta consciente, à prisão em Caxias, durante a vigência da Ditadura de Salazar, e a um longo exílio, em França, até ao seu regresso após o 25 de Abril de 1974. A sua ousadia e frontalidade, valeram-lhe o impedimento de trabalhar, como professor, durante o Estado Novo. Ainda muito jovem, Urbano Tavares Rodrigues, atento e observador do que o rodeava, apercebeu-se das diferenças sociais, nomeadamente, da desigualdade e diferença de tratamento da classe trabalhadora mais humilde. À medida que foi crescendo, desenvolveu-se nele uma consciência e preocupação cada vez maiores, que o levariam a uma profunda reflexão da sociedade na qual estava inserido e a posicionar-se, ideologicamente, à esquerda. A sua convicção assentava numa esquerda humanizada e visionária de como deve ser e viver uma sociedade, cujo bem-estar de cada cidadão é essencial e este critério deveria ser uma das preocupações dos Governos. Infelizmente, e não obstante todo o desenvolvimento tecnológico, as sociedades caminham para o seu inverso, num afunilamento cada vez mais visível, entre os direitos e deveres dos cidadãos, acentuando-se as desigualdades sociais, com a implementação de políticas desastrosas, e criando um fosso, cada vez maior, entre os muito ricos e os muito pobres.
        Urbano Tavares Rodrigues viveu o bastante para alertar, através da sua Obra, para essa falta de humanismo, de tolerância e de preocupação social, afecta aos Governos de cariz neo-liberal.  É impossível dissociar do Homem e do Escritor a sua imensa generosidade e humanismo. Sempre fiel às suas convicções ideológicas, qualquer adjectivação pecará por ser insuficiente face à grandeza e dimensão humanas, que caracterizaram este Grande Senhor da Literatura. Direi mesmo que Urbano Tavares Rodrigues é a sua Obra. Mais uma vez, num acto reiterado que me reporta a um passado recente, acontecido com o nosso Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, penso que o Governo se "esqueceu" de prestar a devida e merecida homenagem ao Escritor, Jornalista, Ensaísta, Crítico Literário e Professor de Literatura. Sabem-se, sobejamente, os motivos... É lamentável verificar a enorme incapacidade latente nos Governos de Direita, como o Governo que actualmente governa Portugal, em lidar com a frontalidade de quem se posiciona à esquerda. Acima de qualquer ideologia, deveria estar o saber reconhecer e enaltecer as qualidades de um indivíduo, quer ele seja Artista Plástico, Músico, Actor ou Escritor.
        A Cultura incomodou sempre os Governos Ditatoriais, como este que nos governa, actualmente. Estes parecem não querer entender, num acto de pura conveniência, que a Cultura é o alimento espiritual de um Povo. Um Povo inculto é como se vivesse privado da luz. É facilmente manipulado e vive na ausência de um espírito crítico. A crítica é, indubitavelmente, o motor essencial e impulsionador do progresso, quer individual quer colectivo. Na ausência da informação e da formação, qualquer Sociedade regride e escraviza-se. É preciso que o diálogo e a reflexão se façam. Governos de índole ditatorial, ainda que se vistam de roupagens a aparentar uma postura democrática, enfermam por uma espécie de "complexo de inferioridade", usando e abusando de poderes que não lhes foram conferidos, aquando da sua eleição, para, a todo o custo, implementarem medidas anti-sociais, baseando-se em critérios falaciosos, numa politiquice, desculpem-me a crueza do termo, de meia-tigela, manipulando, ardilosamente, mas sem engenho nem arte, e procurando fazer crer que toda a acção empreendida é necessária para um bem-estar colectivo.
        Urbano Tavares Rodrigues naturalmente com grande sentido de oportunidade, elevação e humildade, revela qualidades de grande humanista e aborda, em parte da sua Obra, a temática, incómoda, dos podres de uma Sociedade regida por lobbies, corrupção e manipulação, com consequências nefastas para os cidadãos. O Escritor esteve sempre ligado ao Partido Comunista Português. Foi um Homem determinado, de convicções fortes e inabaláveis. Existem pessoas que passam pela vida sem deixarem qualquer marca. Existem outras que pelo seu percurso, perseverança e nobreza de carácter, se tornam inesquecíveis e um exemplo para as gerações futuras. Cabe a cada um de nós manter viva a sua memória. É na maturação das ideias e na capacidade de diálogo, no humanismo, na compaixão e na solidariedade, que se consegue congregar as Sociedades e direccioná-las no caminho da evolução humana, independentemente das ideologias ou das crenças religiosas. Tenho a profunda convicção de que Portugal perdeu um dos maiores insignes vultos da cultura literária portuguesa contemporânea. Tudo o que se possa dizer ou escrever sobre este trabalhador acérrimo da palavra, ficará sempre aquém do riquíssimo exemplo humano que nos legou através da sua Obra. Uma das melhores formas de o homenagearmos será, indubitavelmente, lê-la. Por último e o mais importante de tudo o que escrevi, são as palavras do Escritor, já em guisa de despedida antecipada, palavras que fazem parte do seu último livro, "Nenhuma Vida", que será lançado para assinalar os seus noventa anos, e que abordará diferentes temáticas e olhares sobre a sua vida e Obra. 

"Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhado adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres. Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me e tudo será luar." 



Autora do texto: Isabel Vilaverde.

17 de Setembro de 2013
(@Todos os Direitos Reservados). 

Foto: Obtida através do Google.





quarta-feira, 11 de setembro de 2013

IN MEMORIAM - 11 de Setembro de 2001 - Doze anos depois


        Doze anos depois, a angústia da perda transformada em saudade. A saudade que é agora rochedo no coração de todos os que ficaram privados dos sorrisos, dos gestos e dos abraços, da alegria de viver dos filhos, pais, cônjuges ou amigos. Os anos passaram mas não apagaram as imagens nem a dor  do momento que sonegou, horrificamente, mais de três mil vidas, em escassos minutos, no World Trade Center, em Nova Iorque.

        Tempo longo para uma reflexão profunda sobre o mundo em que vivemos, sobre a sociedade que somos, sobre os caminhos que se percorrem e os motivos que nos levam às nossas acções.
        Vagueamos todos, um pouco, ao sabor dos interesses dos Governos, das oligarquias que os submetem, de regimes corporativos, numa sociedade neo-liberal, em que somos meros peões, numa mesa de xadrez, de um jogo viciado. Somos expectadores de tanta e tanta corrupção que conduz esta sociedade, cada vez mais podre e doente, em que vivemos. O espectro da fome e da miséria subsiste. Vendem-se armas, armamento cada vez mais sofisticado, gastam-se milhões a aperfeiçoar a forma de aniquilar os países, os povos e as culturas ancestrais, em nome de "Alá", da "Liberdade", da "Igualdade", da "Conquista territorial", do "Petróleo", do "Gás natural".

        Ainda não vi ninguém guerrear-se, somente, com as armas da Razão, para que os valores civilizacionais e o respeito entre povos, nações e culturas, fossem defendidos. Somos todos, sem excepção, marionetas neste jogo do poder. Trabalhamos, por vezes, que nem escravos, almejamos bens de consumo excessivos num perfeito exercício de egocentrismo e vaidade, endividamo-nos para mantermos este jogo de aparências, porque a sociedade é redutora, marginaliza e ostraciza... Criamos expectativas, desperdiçamos energias que bem poderíamos canalizar para cimentar valores de maior proximidade, de altruísmo e compaixão. Valores, esses, que nos tornariam, por certo, mais felizes e mais felizes tantos outros seres.
        Depois de todo este percurso que fazemos, damo-nos conta de que a vida se esvai, de um momento para o outro, que não somos donos de nada, que nada levamos quando perecemos, e quão inútil foi tudo o que, avidamente, quisemos possuir, numa total ilusão do poder!
        O Mundo está cheio de vítimas da ganância do Homem. O Ser Humano é o maior dos predadores do Planeta. Investe, estupidamente, na sua própria destruição. A memória colectiva não se pode nunca apagar...
O passado deve permanecer como um marco, como uma ferida que cicatriza e que nos deveria ajudar a compreender melhor o presente e a construir, com solidez, o futuro (se é que existe...), não reiterando nos mesmos erros, pois parece-me doentio.

Autora: Isabel Vilaverde
(@Todos os Direitos Reservados).
11 de Setembro de 2013.

Foto: Google.



segunda-feira, 26 de agosto de 2013

NO ÍNTIMO DE UM BEIJO



Chegaste de mansinho à minha vida,
Trazias nos olhos um raio de arco-íris,
Nas palavras as cores quentes do Verão,
E nos gestos a simplicidade e a paixão.
Levaste-me contigo nos passos lentos da descoberta,
Nas vagas ondulantes de carinhos,
Pelas noites vagarosas de pleno luar.
Ficámos de mãos dadas junto à praia,
Na quietude de um abraço demorado,
Com os olhos perdidos na lonjura da baía...
Luzes pontilhando a noite escura,
E nós, no mais íntimo de um beijo,
Náufragos de um mar de desejo,
Apagando, lentamente, a mágoa e a desventura.

Autora: Isabel Vilaverde
(@Todos os Direitos Reservados).
27/07/2013

Imagem: Autor desconhecido.


sábado, 17 de agosto de 2013

INSÓNIA



Agita-se ébria a noite em mim,
Insónia perdida em meu corpo,
Deambulas febril pelos meus sonhos,
Como um vento de Outono louco.

Voltas do tempo esquecido,
A este lugar há muito despido,
Teus cabelos são fios de prata,
No meu olhar a saudade perpassa.

Caminhei sem horizonte horas de solidão,
As pedras dos caminhos refresquei,
Na sombra das árvores a meditar me sentei.

Sorriram meus olhos quando te vi,
Minhas asas de condor no teu peito abri,
E os beijos da minha boca morreram todos em ti!

Autora: Isabel Vilaverde
(@Todos os Direitos Reservados).

Imagem: Google. Autor Desconhecido.



segunda-feira, 29 de julho de 2013

TENHO OS SONHOS NA PALMA DAS MÃOS



Tenho os sonhos todos na palma das mãos...
Tenho o teu olhar, o teu respirar, o teu toque na minha pele...
Sem destino vou nas asas do teu amor.
Não quero fechar as mãos a este sonho que me despertou
e me faz tão feliz...
Vou... sem querer saber até onde me levará...
O passado morreu, terminou!
Hoje só a tua voz  ouço no meu ouvido,
Só o teu olhar fica no meu perdido,
Só o teu beijo encontra o meu,
Só tu acendes uma fogueira que arde... arde....
e me abrasa os sentidos...
Tenho os sonhos todos na palma das mãos,
E todos os momentos por viver.
Quero amar-te, beijar-te as lágrimas,
Segredar-te ao ouvido a calma dos dias...
Quero que sejas aragem fina a aflorar a minha pele
e sorriso na minha boca,
Deixa-me prender-te no meu abraço e dizer-te o quanto
és importante para mim...
Fica...
Espera comigo o luar,
E todos os momentos,
Todas as coisas irão, aos poucos, ocupar o seu lugar.
Há quanto tempo queria caminhar descalça no areal deserto
de mãos dadas contigo...
E hoje tu foste o meu porto-dos-sentidos,
O meu porto-de-abrigo.
Quero que o sejas no voo das andorinhas,
Nas folhas amarelecidas,
No branco dos caminhos,
No Sol intenso dos dias,
No olhar cúmplice, nos dedos entrelaçados,
E quando o nosso caminho se encurtar...
Que saibamos caminhar,
Com o mesmo amor no olhar.

Autora: Isabel Vilaverde
29 de Julho de 2013
(@Todos os Direitos Reservados).

Imagem: Praia das Chocas, Moçambique.
Autor desconhecido.






sexta-feira, 26 de julho de 2013

MANTO PÚRPURA



Nos teus braços estendidos,
Ao sabor das tardes quentes,
Meus olhos são cristais perdidos,
Meus lábios são beijos ardentes.

Fogueira que em mim arde sem cessar,
De querer nas tuas searas me perder,
E esta saudade no meu peito a transbordar,
E este orvalho nos meus olhos sem se ver.

Céu de manto púrpura vestido,
Desenhado sobre os montes recortados,
Crepitam no chão rubras papoilas,
No ar dançam perfumes almiscarados.

Minh´alma é uma imensa planície,
Sequiosa das tuas noites de luar,
Do canto ritmado das cigarras,
Do murmúrio das fontes a solfejar.

Parti sem o querer, meu Alentejo amado,
Tristes os sinos repicaram num pranto sem fim,
E os meus olhos gotejando perguntaram,
Oh meu Deus porque tem que ser assim?

Autora: Isabel Vilaverde
Julho 2013

Imagem: Google.



quinta-feira, 18 de julho de 2013

GRITO VERMELHO



Oh imenso e loiro trigal,
Ao braseiro do Sol deitado,
Oh planícies verdejantes,
Saudosos choram meus olhos distantes.

Sinto um sopro de vento na pele,
Leve e quente a sussurrar,
Aflorando de mansinho,
Meu rosto afogueado vem beijar.

Oh árvores frondosas curvadas,
Morrendo num rubro poente,
Imploram dos céus a bênção,
Das gotas de chuva ausente.

Papoilas à brisa se agitam,
Num grito vermelho de espanto,
Oh meu Alentejo abandonado,
Às mornas tardes de encanto.

Desce o silêncio sobre os montes,
Os bichos se aquietam e eu,
Baixinho palpitam as fontes,
Tudo em volta adormeceu.

Autora: Isabel Vilaverde
Julho de 2013
(@ Todos os direitos reservados).



quinta-feira, 4 de julho de 2013

FULGOR


Exalo o perfume da saudade que se prende em mim,
Saudade esculpida pela dor de um amor que emudeceu,
Nos olhos ficou-me um rio...
Vagueio à deriva pelas águas tumultuosas deste meu existir
Num emaranhado de pedaços carcomidos,
Já não canto manhãs endoidecidas,
Deste amor afogueado ficou-me o silêncio da noite,
Viajo por lugares onde fomos felizes,
A lembrança fere-me como espinho cravado na pele,
Sou uma manta de retalhos desbotada pelo tempo...
Não tenho conserto, não sinto alento,
Mas trago ainda na boca rubros beijos por dar,
No peito um leito de amor por derramar,
Escondida nos olhos uma lua plena,
Já não espero os teus devaneios, os teus risos soltos, o teu abraço no meu,
Em nós tudo foi vida, chama intensa, fulgor,
Em mim
 hoje tudo morreu.

Autora: Isabel Vilaverde
(Todos os Direitos Reservados).

Foto: Autor desconhecido.


domingo, 30 de junho de 2013

ALICE



 
      A minha vida sem ti é um deserto. Dilui-se nesta gigantesca cidade de vidas solitárias a fingirem ser vidas. Os dias, de muitos sóis, passam, morrendo nas noites de bruma que engolem os corpos - que me engolem num momento de pausa.
     Procuro-te incessantemente nesta cidade labiríntica de recantos e colinas, de ruas longas e avenidas largas manchadas de carros, de gentes e de azáfama, de becos tristes e abandonados, onde e apenas as pedras gritam, nas sombras que se multiplicam, dos candeeiros que tenuemente as iluminam. Em mim jaz um silêncio pesado que me entra nos ossos, um ruído surdo, desde o momento em que desapareceste da minha, das nossas vidas. A tua gargalhada deixei de a ouvir ao acordar das manhãs de Domingo, quando te fazia cócegas e tu pulavas, frenética, na nossa cama. O teu pequeno corpo, franzino e frágil, deixei de o sentir quando te pegava ao colo e tu, de braços abertos e cabeça pendida para trás, imaginavas ser um avião e dizias-me para eu correr porque querias voar... E eu corria, corria pela casa fora, para poderes voar nos meus braços.
      A tua voz, ouço-a agora dentro de mim, no meio do caos em que a minha vida se tornou. Preciso de te encontrar, Alice, de pôr termo à tua ausência que me sufoca. Dupliquei o meu olhar sobre ti. De vez em quando penso ver-te a acenares para mim, de mão rosada no ar. De vez em quando penso ver os teus caracóis a ondularem ao vento, enquanto corres e ris a segurar o papagaio multicolor que te ofereci, no jardim da nossa casa.
      Procuro-te no meio do trânsito, nas ruas apinhadas, junto às montras ou nos cafés, sentada a uma mesa, a lanchares um croissant e a beberes um copo de leite, enquanto me olhas, com esse olhar tão meigo e doce, e me sorris. Pior do que a morte física, é a morte de nada saber de ti. Pior do que viver, é fingir que se vive. E eu finjo. Por ora preciso de fingir para continuar a esgotar os dias e todas as horas à tua procura. Não posso desistir de mim, porque não posso desistir de ti. Recuso a saudade. Quero acreditar que andas apenas perdida dos meus olhos e que em um destes dias, em uma qualquer hora irei encontrar-te. Onde estás, Alice?
 
 
Autora: Isabel Vilaverde
 
- Texto inspirado no filme "ALICE", realizado por Marco Martins (2005)
- Tema musical de Bernardo Sassetti.
 
 



quinta-feira, 6 de junho de 2013

UM ANJO NO CÉU



Rosto traquina, olhar esperança,
Boquinha de amora fechada à resignação,
Deitado na cama estava um menino,
Escondia na minha a sua frágil mão.

O meu olhar preso ficou nos teus olhos,
Silenciado no peito um grito de emoção,
O balbucio das palavras inaudíveis,
Eram gotas de sangue no meu coração.

Maria, Miguel, Rodrigo, João...
Quantas crianças fustigadas pelo sofrimento estão,
Sem entenderem qual a razão.

A dor agigantou-se tamanha, cruel,
Roubou-lhes os sorrisos, o brilho do olhar,
E todos os sonhos ficaram perdidos,
Em futuros por desbravar.

Written by: Isabel Vilaverde
13/10/2011

Imagem: Google.


quarta-feira, 22 de maio de 2013

ABRAÇA-ME



ABRAÇA-ME NESTE PORTO INSEGURO,
NAS MARGENS DO CANSAÇO DO DIA,
FORTE COMO O ABRAÇO DO SOL
AOS ENCANTOS DA LEZÍRIA,
ABRAÇA-ME O CORPO DESPIDO
À INCERTEZA DO LUAR,
E NAS NOITES DE CALMARIA ENCONTRA O MEU SORRISO,
ABRAÇA-ME NAS COLINAS DO VENTO,
NA BRISA QUE AFLORA O MEU ROSTO,
PARA QUE A MINHA PELE RESPIRE O PERFUME DA TUA PELE,
ABRAÇA-ME PARA QUE EU POSSA INCANDESCER E SENTIR-ME FELIZ,
ABRAÇA-ME COMO SÓ TU O SABES FAZER,
GUARDA O MEU AMOR NO SILÊNCIO SEM TEMPO,
NESTE ABRAÇO DE PERTENÇA,
DEIXA-ME NOS TEUS BRAÇOS MORRER.

WRITTEN BY: Isabel Vilaverde.
22/05/2013

IMAGEM: Google.

terça-feira, 16 de abril de 2013

CORRE-CORRE MENINO, CORRE


CORRE-CORRE MENINO, CORRE,
DE PÉS DESCALÇOS NO CHÃO,
COM ESSA BOLA DE TRAPOS,
ALEGRA-TE O CORAÇÃO.

É TUA A TERRA VERMELHA,
O RISO DE ALVA BRANCURA,
CORRE-CORRE MENINO, CORRE,
SOLTA ESSA GARGALHADA PURA.

CORRE-CORRE MENINO, CORRE,
DE CALÇÃO COSSADO E VENTO NO ROSTO,
BRINCA NESSE XIPAMANINE,
DE MANHÃ ATÉ AO SOL-POSTO.

CORRE-CORRE MENINO, CORRE,
OUTRO DIA VAIS À ESCOLA,
LEVAS O BRILHO NO OLHAR,
OS SONHOS GUARDADOS NA SACOLA.

DE LÁPIS A RODAR NA BOCA,
CORAÇÃO PALPITANDO BAIXINHO,
ESCREVE-ESCREVE MENINO, ESCREVE,
MUDA  O TEU DESTINO.

CORRE-CORRE MENINO, CORRE,
SONHA UM MUNDO MELHOR,
ONDE OS HOMENS SE GUERREIAM,
COM AS ARMAS DO AMOR.

CRESCE-CRESCE MENINO, CRESCE,
UM DIA FORTE SERÁS,
DEITA ABAIXO OS MUROS DA INDIFERENÇA,
ENTRE OS POVOS SEMEIA A PAZ.


Written by: Isabel Vilaverde
16/04/2013
(Todos os Direitos Reservados).


IMAGEM: Daniel Rodrigues
World Press Photo 2013, 1º Lugar na Categoria "Daily Life".

segunda-feira, 15 de abril de 2013

TENHO A ALMA DE UM PÁSSARO

Tenho a alma de um pássaro,
A fragilidade de uma flor,
Voo, em voos moribundos em busca do amor,
Sou a ferida aberta na chaga do tempo,
A lágrima liberta no cais do esquecimento,
Sou a noite tumultuosa, o vento agreste, a vida desditosa,
A manhã fria de Abril que de chuva se veste,
Sou a pequena barcaça à deriva no mar,
Sem rumo, sem porto aonde atracar,
Sou o grito de revolta no silêncio da palavra,
A esperança contida ao romper da madrugada,
Sou os braços nus despidos dos teus,
Sou a lembrança dos beijos que outrora foram meus.

Written by: Isabel Vilaverde
11/04/2013

Pintura: Leonild Afremov.


domingo, 7 de abril de 2013

É PRIMAVERA MEU AMOR


Que linda amendoeira em flor...
É Primavera meu amor!
As sardinheiras já abraçam as janelas,
As andorinhas trinam nos beirais,
E as gaivotas, sedosas, dançam ao Sol,
Adornam cheias de graça o cais.
E nós de mãos dadas...
De olhar perdido no azul do mar,
Com esta vontade imensa
De nossas bocas beijar.
É Primavera meu amor!
Fiquemos até tardar,
E quando a noite vier,
Embalemos nossos corpos ao luar.

Autora: Isabel Vilaverde
Abril de 2013

Imagem: Google.
















Imagem: Google.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

NESTE DESAMOR, AMO-TE

Amas-me?
Acaso sabes o que é amar? Eu, tenho dúvidas, sempre as tive até hoje. Tudo é incerto, imperfeito, inquietante, indefinido... Tanto e tão pouco, quantas vezes, NADA. O vazio a esvaziar-nos a alma, a transformar-nos, a matar os sonhos que deixam de o ser, sem nunca terem sido. O vazio a invadir o lugar das coisas que já não são, para dar lugar a outras que, talvez, possam vir a ser... memória.
Amas-me?
É uma interrogação constante do meu pensamento. Não consigo evitá-la por mais que tente dissuadi-la. Ela vibra, amorfa de palavras, na minha boca, eloquente nos meus olhos à procura dos teus... Os teus olhos, esquecidos dos meus,  abertos apenas para essas teclas, onde passas sentado nas horas, o dia, a exercitar, frenético, as pontas dos dedos.
O que é o tempo para ti? O amor?
Já sei, desculpa insistir outra vez, nem sei se me ouvirás à pressa... Presumo que nem terás tempo para reflectir nas minhas questões e responder. Gostaria que levantasses as pálpebras caídas sobre esse amontoado de teclas e olhasses, com tempo, para mim. Gostaria de ouvir-te responder, sem utilizares palavras secas e rápidas, como "sim", "não", "talvez". Já sei... não digas... precisas de tempo... Há quanto tempo andamos nisto...?! Nem vou contar os meses, os anos... Sei apenas que há muito tempo. Sinto-me dúbia face à relatividade da vida, perante a qual somos expectadores mais ou menos circunstanciais, mais ou menos cúmplices ou ausentes, mais ou menos amantes fervorosos ou distantes, mais ou menos crentes ou ateus, mais ou menos... É assim que me sinto em relação a ti, devo dizer-to, sabes como sou frontal. Tenho dúvidas. O teu comportamento estreita as margens deste rio em que quero navegar. Sabes que duvido sempre de quem tem tudo por certo, na medida certa, na hora certa, sabe o tempo certo para fazer ou dizer, tem todas as explicações na ponta da língua... Eu tenho apenas dúvidas, interrogações e, por isso, pergunto-te pela derradeira vez...
Amas-me?
Estou cansada deste silêncio que se intrometeu entre nós. Dantes não era assim. As palavras floresciam nas nossas bocas e o tempo era uma ponte que nos unia doce e fortemente. O tempo passou.... Lá vêm as vicissitudes da vida a "matar o tempo perfeito", a sonegá-lo de nós, para dar lugar à angústia, à incerteza, à desconstrução de tudo o que se construiu até aqui. Será que se construiu ou será que o "tudo" não passou de um desejo da alma que o tempo rapidamente, numa constância latente, erodiu e nos iludiu, sem tempo de sermos felizes?
Amas-me?
Não sei se sei explicar... Digo-te, neste desamor que sinto ao olhar-te, com os olhos marejados de gotas grossas e mornas, AMO-TE.

Autora: Isabel Vilaverde
14 de Janeiro de 2013


Imagem: Google.

 
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