segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

NESTE DESAMOR, AMO-TE

Amas-me?
Acaso sabes o que é amar? Eu, tenho dúvidas, sempre as tive até hoje. Tudo é incerto, imperfeito, inquietante, indefinido... Tanto e tão pouco, quantas vezes, NADA. O vazio a esvaziar-nos a alma, a transformar-nos, a matar os sonhos que deixam de o ser, sem nunca terem sido. O vazio a invadir o lugar das coisas que já não são, para dar lugar a outras que, talvez, possam vir a ser... memória.
Amas-me?
É uma interrogação constante do meu pensamento. Não consigo evitá-la por mais que tente dissuadi-la. Ela vibra, amorfa de palavras, na minha boca, eloquente nos meus olhos à procura dos teus... Os teus olhos, esquecidos dos meus,  abertos apenas para essas teclas, onde passas sentado nas horas, o dia, a exercitar, frenético, as pontas dos dedos.
O que é o tempo para ti? O amor?
Já sei, desculpa insistir outra vez, nem sei se me ouvirás à pressa... Presumo que nem terás tempo para reflectir nas minhas questões e responder. Gostaria que levantasses as pálpebras caídas sobre esse amontoado de teclas e olhasses, com tempo, para mim. Gostaria de ouvir-te responder, sem utilizares palavras secas e rápidas, como "sim", "não", "talvez". Já sei... não digas... precisas de tempo... Há quanto tempo andamos nisto...?! Nem vou contar os meses, os anos... Sei apenas que há muito tempo. Sinto-me dúbia face à relatividade da vida, perante a qual somos expectadores mais ou menos circunstanciais, mais ou menos cúmplices ou ausentes, mais ou menos amantes fervorosos ou distantes, mais ou menos crentes ou ateus, mais ou menos... É assim que me sinto em relação a ti, devo dizer-to, sabes como sou frontal. Tenho dúvidas. O teu comportamento estreita as margens deste rio em que quero navegar. Sabes que duvido sempre de quem tem tudo por certo, na medida certa, na hora certa, sabe o tempo certo para fazer ou dizer, tem todas as explicações na ponta da língua... Eu tenho apenas dúvidas, interrogações e, por isso, pergunto-te pela derradeira vez...
Amas-me?
Estou cansada deste silêncio que se intrometeu entre nós. Dantes não era assim. As palavras floresciam nas nossas bocas e o tempo era uma ponte que nos unia doce e fortemente. O tempo passou.... Lá vêm as vicissitudes da vida a "matar o tempo perfeito", a sonegá-lo de nós, para dar lugar à angústia, à incerteza, à desconstrução de tudo o que se construiu até aqui. Será que se construiu ou será que o "tudo" não passou de um desejo da alma que o tempo rapidamente, numa constância latente, erodiu e nos iludiu, sem tempo de sermos felizes?
Amas-me?
Não sei se sei explicar... Digo-te, neste desamor que sinto ao olhar-te, com os olhos marejados de gotas grossas e mornas, AMO-TE.

Autora: Isabel Vilaverde
14 de Janeiro de 2013


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