segunda-feira, 1 de outubro de 2018

CHORO UM RIO



Choro um rio por dentro
Sempre que me estendes a tua minúscula mão
E me pedes com olhos tristes que te mate a fome.

Choro um rio por dentro
Sempre que o negro no teu rosto
É sombra no meu caminho.

Choro um rio por dentro
Sempre que a tua voz desesperada
Ecoa nas minhas noites de insónia.

Choro um rio por dentro
Sempre que a tua solidão povoa o meu silêncio
E o meu coração é súplica por um mundo melhor.

Choro um rio por dentro
E perco-me pelas esquinas da dor
Que grassa pelos becos do desamor.

Choro um rio por dentro
Pela criança que fui, pela mulher que sou
Pelos sonhos por cumprir.

Choro um rio por dentro
Pela orfandade, pelas bombas, pelos vícios
Pela morte da vida esquecida em um qualquer lugar.

Choro um rio por dentro
Porque queria levar-te e mostrar-te um outro jardim
Florido de amor, de beleza pura e não de maldade e tortura.

Choro um rio por dentro
Por todos os que partem sem inalar o perfume das flores
Sem ver o despontar do Sol ou ouvir o rugido do mar.

Choro um rio por dentro
Sempre que a liberdade é algema
E as casas grades e muros de solidão em vez de conforto e protecção.

Choro um rio por dentro
Sempre que a saudade desagua em mim
E o leito de amor percorre o labirinto à procura de ti.

Choro um rio por dentro
Sempre que não ouço o riso das crianças
Ou te sinto os beijos e os abraços esquecidos no compasso do tempo.

Choro um rio por dentro
Sempre que vejo rostos de mães angustiados
Almas feridas, dilaceradas pela ausência.

E choro...
Choro um rio por dentro
Sempre que antes do eclodir das Primaveras, tudo adormece
Porque o mundo, este mundo cruel em que existo
A humanos cruéis também pertence.


Poema: Isabel Vilaverde
(@Todos os Direitos Reservados, ao abrigo dos Direitos de Autor)
25-09-2018


Imagem: Autor desconhecido. Imagens Google.


quarta-feira, 23 de maio de 2018

MINHA ETERNA PAIXÃO



Há uma Primavera feliz no coaxar das rãs ao entardecer...
Meu olhar funde-se no verde matizado da tua paisagem,
Como te sinto o abraço...!
Envolves-me doce e profundamente...
Nesta saudade de ti que agora mato lentamente.
A quietude povoa a noite, misteriosa e amena... afaga meus olhos...
E as pálpebras semicerram-se num encontro de silêncio e de paz.
Meu querido Alentejo... és paixão ardente que me acompanha os passos...
Um dia hei-de beijar-te sem pudor,
No vagar das tuas searas onduladas ao sol pôr,
Para sempre guardar-te em meus braços... na eternidade efémera do meu ser.
E nessas tardes preguiçosas... descansarei de meus cansaços.

Isabel Vilaverde
14-05-2018
@Todos os Direitos Reservados

Foto: Isabel Vilaverde
Herdade do Amarelo
São Luís, Odemira


 
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