sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

SILÊNCIOS


Há silêncio detrás dos montes
Em cada pôr-do-sol,
Há silêncio no pousar das borboletas
Nas folhas verdes,
Há silêncio na tua voz
Em noites eternas,
E silêncio nas tuas mãos
Desavindas do meu corpo...
Há silêncio nos teus lábios
Perdidos dos meus beijos...
Há, na hora da despedida
Silêncios inesperados,
E na alegria da chegada
Silêncios e olhares partilhados...
Gestos que em silêncio
Abraçam a minha alma,
Há silêncio de palavras
Na tua boca...
E silêncio na entrega
Dos nossos corpos...
Silêncios por desvendar
Em cada espera,
E silêncios contemplativos
Conjugados no verbo amar,
Há lágrimas que em silêncio
Rostos lavam...
Silêncios que me sufocam,
Que me engolem,
Como o mar os barcos que naufragam...
Há amores em silêncio desejados,
E amantes, em silêncio enlaçados,
E há o amor... o nosso amor...
Que o silêncio para sempre matou!


Written by: Isabel Vilaverde
Dezembro de 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

VONTADE



Acordei com vontade de te envolver
num doce e terno abraço...
De te pintar os traços numa tela de saudade...
De levar-te comigo... como o vento leva as folhas de Outono
Acordei com vontade de beijar-te... como o mar revolto beija as rochas inertes
De abrir-te os braços... como o fogo que arde na serra oferecida
De escrever-te... palavras que o coração dita
E deixá-las voar... como pássaro livre
Ao teu encontro.



Written by: Isabel Vilaverde
Novembro 2010

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

ESPERO-TE


Espero-te...
Desesperam os braços para te abraçar
E neste compasso de espera
Morro em cada pôr-do-sol...
Renascendo em cada aurora
o desejo de te amar.


Written by: Isabel Vilaverde
Outubro 2010

OUTONO





Foto de Paulo Freixinho

Cai a chuva... lavando caminhos errantes
Brilha um Sol nos meus olhos
E da boca... a palavra amor voa
Como um vento que sai de mim...
Já tinha saudade de te sentir, Outono,
Já tinha fome de ti.


Written by: Isabel Vilaverde
Outubro 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A UM VENCEDOR


Olhar ausente...
Distante como os sonhos
Que te habitaram a juventude,
E na pele tão marcada,
O martírio, o sofrimento,
Os enlaces que um dia
Te aconchegaram o coração,
O desencanto, o desamor,
As lágrimas choradas
Por aqueles que partiram,
O vazio que te ficou no peito...
Um dia foste filho, pai, amor
Foste capitão de navio,
Sapateiro, pescador...
Um dia foste o sonho
De uma mulher,
Um porto seguro, um sonhador,
Despiste a farda do egoísmo
E deste-te aos outros...
Albergaste ideais,
Lutaste com convicção,
Gritaste revolta,
Fizeste da tua vida
Um hino de esperança, uma revolução,
Entre guerras e batalhas
Foste um vencedor.
Hoje, as tuas mãos
Abrem-se ao vazio
De um rosto para acariciar,
De um corpo para tocar.
Na tua boca vegeta apenas
O silêncio das palavras,
E o teu corpo,
Quase inerte pelas dores do tempo,
Arrasta-se, penosamente,
Para um beco qualquer,
Nele abrigas
A pesada herança da velhice,
Estás só... tão só como as pedras
Da fria calçada que te acolhe.
Desvaneceu-se o brilho de outrora
E nos olhos, ficou o esquecimento
Dos que amaste nos tempos de glória,
Tens como tecto a noite,
No coração, ausência e dor.
Recebes nas mãos trémulas
Um prato de sopa quente,
Porque entre diabos e anjos,
Existe amor!


Written by: Isabel Vilaverde
Outubro 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

AMAR DE NOVO


Todos nós, pelo menos uma vez na vida, encontrámos alguém, que nos fez parar para pensar. Situações verdadeiramente inesperadas, que podem mudar, radicalmente, o rumo da nossa vida. E, por isso mesmo, quantas vezes nos questionámos, com o intuito de encontrar uma explicação, um sentido. Pensámos, analisámos, avaliámos prós e contras...
O que nos pareceu, à priori, fácil, tornou-se difícil... o que nos pareceu difícil e complicado, veio a revelar-se simples. E isto aconteceu-nos vezes sem conta.
O nosso instinto, aliado à experiência de vida, dá-nos directrizes sobre o que fazer, perante as tais situações inesperadas. E começamos, quase de modo inconsciente, a fazer uma triagem, após a qual tomaremos uma atitude, faremos uma escolha, seguiremos um rumo.
Mas, como em tudo na vida, a voz do coração quase nunca coincide com a voz da razão. E, quando se trata de sentimentos, tudo se complica...
O medo de nos deixarmos amar existe na realidade. Resistimos perante o desejo. Todos desejamos viver um grande amor, nem todos somos capazes de o viver.
Ao aceitarmos tal condição, de ser amado e de amar, teremos, obviamente, de aceitar tudo o que ela implica. Estaremos, realmente, dispostos a correr tais riscos? O risco de vir a sofrer, o medo de falhar, a capacidade de fazer cedências...
Quando iniciamos uma nova relação, será que arrumámos, definitivamente, dentro de nós, todos os aspectos negativos da relação anterior? Estaremos dispostos a entregarmo-nos a essa nova relação, fugindo de uma certa tendência, humana diria, de comparar pessoas? Será que estaremos à altura de amar o/a outro/outra, com total isenção, sem deixarmos os «ses» e os «mas» interferirem no nosso caminho?
Todos temos medo de sofrer, apesar do sofrimento fazer parte da vida e do nosso crescimento, como pessoas. É ou não verdade que, quando ficamos sós, depois de uma relação terminada, dizemos: «nunca mais» ou «nem tão cedo me meto noutra». Isto, evidentemente, quando não agimos com leviandade... e exigimos de nós uma atitude de introspecção.
Também é verdade que, quando ficamos sós, quase sempre nos focamos noutros interesses, tentando desviar a atenção para áreas que, de alguma forma, preencham o vazio pela ausência de um companheiro ou companheira. Com isto, não quero de forma alguma dizer que, quando temos alguém ao nosso lado, deixamos de fazer o que gostamos ou desejamos. O nosso espaço individual deve ser sempre mantido, numa vivência de partilha. O que pretendo realçar é, tão somente, que alteramos hábitos, estabelecemos prioridades onde, por vezes, uma nova relação não tem lugar.
Essas prioridades tornam-se rotinas, ficamos preguiçosos, individualistas, achando até que perdemos a capacidade de amar - puro engano! O racional e o emocional entram em desequilíbrio. Para que tudo volte à normalidade e a vontade de amar renasça, há que quebrar as barreiras do comodismo que deixámos instalar dentro de nós, não termos medo de arriscar, criando um novo espaço para deixar entrar o pulsar do amor.
Ninguém nasce para viver sozinho. Precisamos de amar, tal como precisamos do ar para respirarmos.
O que é essencial na vida de cada um de nós, o que perdurará enquanto a percorremos, o que nos une e nos fará felizes, são os laços do amor e da amizade que conseguimos estabelecer  uns com os outros. Tudo o mais, é acessório.

Autora: Isabel Vilaverde
Setembro de 2010
(@Todos os Direitos Reservados).

Imagem: Google.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

FALA-ME DE TI...




Fala-me de ti, da tua solidão. Tenho de perceber se ela é igual à minha. Fala-me das tuas vitórias e das tuas derrotas. Fala-me dos momentos intensamente vividos, das alegrias sentidas, dos caminhos errados que percorreste, dos medos, das frustrações. Fala-me de ti, para eu perceber que não estou só.
Sei que precisas de tempo e de silêncio para te encontrares, eu também. Cruzámo-nos por um acaso, uma feliz coincidência ou não e, na nossa solidão, partilhamos as vidas, ainda que distantes pelas barreiras físicas, mas perto, bem perto um do outro. Tu e eu vivemos, nesta solidão partilhada, menos sós.
Fala-me de ti, do que ainda queres ser. Não importa o que tu e eu fomos, mas sim o que somos. Para ti e para mim, tem de existir amanhã. Não podemos viver aprisionados pelo medo de não conseguirmos. Para quê levantar barreiras dentro de nós? Essas são as mais perigosas e difíceis de demolir, tu sabes.
Já experimentámos a dor. Já cruzámos caminhos, mares, outras vidas, já sonhámos ideais. Por tudo isso somos hoje mais do que fomos. Um cúmulo de aprendizagens e de sabedoria. Somos audazes, perante as adversidades, e capazes de destrinçar o bem do mal. Sabemos o que queremos, o que nos faz bem e nos permite avançar. Por isso escolhemos o nosso caminho. A reflexão deverá estar sempre presente nessa escolha, ao pretendermos ir ao encontro do verdadeiro sentido da vida.
A vida é uma só estrada, por todos percorrida, longamente ou em tempo breve. Nela, encontramos dor, amor, amizade, solidariedade, cumplicidade, partilha; pilares que nos humanizam e nos tornam grandes. Mas também encontramos ódio, indiferença, crueldade, mentira, arrogância; tudo o que nos torna monstros com forma humana.
Uma palavra dita, um gesto, mostrados de forma especial, farão a diferença. Marcarão, para sempre, a nossa memória e as nossas vidas.
Fala-me de ti, meu amigo. Deixa que o Sol te inunde o coração. O meu está pronto para te acolher, tranquilamente. Guarda a solidão que precisas para te encontrares, e partilha comigo aquela outra que te magoa. Tenho todo o tempo do mundo.


Com amizade...
Isabel Vilaverde
(dedicado a um amigo
em sofrimento).
20 Setembro 2010






sábado, 18 de setembro de 2010

UM DIA... LÁ LONGE


Vivo algures...
Entre a morte do dia e o raiar da aurora,
Morro algures...
Num sorriso escondido, nuns olhos que gotejam,
No tempo esvaído, na poesia contida nas palavras que te não digo.
Grita a alma a sede de amar...
No vazio dos braços meus os teus para aconchegar.
Parte barquinho de papel... navega esse mar de sal,
Encontra o tempo perdido e traz-me o amor outrora vivido.
Não deixes morrer no vento que sopra a minha vontade de ser...
Outras Primaveras tenho ainda para renascer,
Outros beijos ardentes para dar e receber,
Histórias e memórias para contigo dividir.
Acorda em mim o sorriso povoado de silêncios,
Pare em mim o sonho de um amor que há-de surgir,
E nos meus poentes de Outono abre janelas de rosas a florir.
Não me deixes morrer na solidão das horas...
Pousa nos meus lábios  os teus beijos meigos,
Devolve aos meus olhos o brilho rutilante das estrelas,
O encanto dos dias a sorrir.
Um dia... lá longe quando o silêncio a minha boca invadir
E os meus passos lentos os teus não acompanharem,
Um dia... lá longe quando a noite chegar fria e o meu coração tocar,
Que seja branda a dor que trouxer,
Que sinta a tua mão o meu rosto afagar,
O teu abraço terno o meu corpo envolver,
E o teu doce beijo os meus olhos fechar.

Written by: Isabel Vilaverde
Setembro 2010



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

ROSA AMARELA



Meu vulcão de lava escorrendo sobre as colinas do desejo,
Minha lágrima esquecida que desces lenta o leito do rio,
Minhas mãos oferecidas à morte e à vida,
Fronteira distante onde espero o beijo...
Devagar fecho a janela aos odores da Primavera,
Ensaio um último passo ao teu encontro...
Perco-me no labirinto do tempo.
Sabes... Deixei de tocar as estrelas ao olhar o firmamento,
Perdi-me das flores, da brisa, do mar,
Dos montes e árvores, do Sol, do luar...
Dos pássaros de fogo que voaram nos meus braços,
E de ti, dos teus abraços.
Reinvento os dias sempre iguais...
Já não sinto a emoção de te amar,
Deixaste o vazio em seu lugar.
Um dia partirei com os ventos invernosos,
Se te lembrares de mim, sim, se te lembrares...
Deixa uma rosa amarela a perfumar a minha lápide,
A rosa que foi nossa!

Written by:Isabel Vilaverde
Setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

NO LIMITE DOS MEUS OLHOS ( A SETÚBAL)


É tão bom mirar-te
Na ausência das vozes
Silenciadas ao cair da noite...
De dia, cidade  imponente,
Plena de cores e aromas
E ritmos de gente.
As luzes, amarelecidas,
Dos candeeiros curvados,
Vestem-te o negrume da noite,
Recortam-te os montes,
Os prédios altos circundantes,
O rio de águas mansas,
As tuas fontes de mágoas transbordantes.
Tudo é paz, tudo dorme...
Observo, no limite dos meus olhos,
Bordado a estrelas
O negro manto que te cobre,
Encontro-te no canto lírico, no Teatro,
Nos pintores e poetas imortais,
No extenso laranjal,
No vinho e nos doces regionais,
No teu estuário de águas mansas,
Setúbal, cidade de mil encantos,
Também são meus os teus ais.

Autora: Isabel Vilaverde
(@Todos os Direitos Reservados).
Setembro de 2010

Imagem: Google.



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

NO SAL DA TUA BOCA


Um beijo, um abraço
Um espaço sem tempo,
Um tempo sem espaço,
Uma lágrima morrendo
No sal da tua boca,
Um olhar de emoção,
Uma mão que se toca...
Um suspiro perdido
No teu mar de desejo,
Um sussurro ao ouvido
A pedir outro beijo...
Os dedos que passeiam
Pelas margens do meu corpo,
Os lábios que se unem
Num cálice de fogo,
Os braços que se enlaçam
Num abraço longo...
Os corpos que se amam
No despertar da aurora,
Uma brisa que se sente,
Um gesto que demora...
O vazio que se preenche,
A dor que se esquece,
A solidão que se vence,
O sonho que acontece...
Um porto-de-abrigo
Enfeitado de barcos e luar,
Um poema dito
No infinito do verbo amar.

Written by: Isabel Vilaverde
Setembro 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

VIDAS DESENCONTRADAS



Murmura  minha alma,
Lembrando-me beijos arrebatados,
Olhares e silêncios dos nossos corpos enlaçados,
Feliz esse tempo que a memória guarda,
Descanso os braços na saudade dos teus,
E no parapeito alto da minha janela
O olhar distante brilha no fulgor da noite,
Pintando pedaços de um sonho na tela.
Que linda a Lua... tão alta no céu,
Será que viste passar o amor que foi meu?
Plena vais ficando... Tão iluminada,
Desinquietas-me o sono oh noite estrelada.
Um véu de lágrimas vou tecendo,
E a brisa suave, neste fim de Agosto, meu rosto beijando.
Se estivesses aqui comigo, amor, de braços em meu redor,
Meus lábios te ofereceria e versos intensos te escreveria
Declamados na dança dos nossos corpos.
Foste ponte erguida  sobre as margens do meu ser,
Se estivesses aqui comigo, amor... Murmura minha alma tão pura,
E esta saudade imensa que em meu peito perdura.

Written by: Isabel Vilaverde
Agosto 2010


Imagem: Autor desconhecido.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

E CELEBRÁMOS A NOITE




A noite convidava a ficar,
 Não tinha pressa de regressar a casa,
As luzes da marginal
Recortavam a baía imensa
Prateada pelos raios do luar,
A brisa, suave, envolvia-se cúmplice
Nas nossas conversas,
Passos lentos ecoavam na calçada,
Os saltos dos meus sapatos
Picando, amiúde, as pedras,
Sentia-me bem contigo,
Tão bem, que receava que esse momento
Fosse apenas um sonho...
Não queria acordar para os dias cinzentos,
Para as noites longas,
Não queria acordar para as palavras
Silenciadas,
Queria estar ali e eternizar, contigo, essa partilha,
Desfrutar da paz que me transmitias,
De vez em quando parávamos,
Para sentirmos mais intensamente,
O cheiro a maresia que se desprendia
Daquele marulhar calmo das ondas,
Beijando a areia deserta de gente,
De repente, viraste-te suavemente para mim
E olhando-me, disseste, és como eu...
Procuras o que eu procuro,
Viver a vida,
Detendo-te no que é o essencial,
Sabes escutar o silêncio
E encontrar, nos pequenos nadas,
A razão de viver,
Inspiras-me tranquilidade, és linda!
O seu rosto aproximou-se
Do meu, devagar...
E celebrámos a noite, ali,
Sob o manto de estrelas,
Com um beijo de ternura consentido,
E um abraço do tamanho do mar...
De repente acordei, primeiro confusa,
Depois percebi que tudo não passara de um sonho,
Pretendi voltar, só mais um bocadinho que fosse,
Fechei os olhos, mas já não foi possível
Levantei-me e abri a janela do quarto,
Para espreitar a cidade ainda adormecida
E relembrar esse pequeno grande momento de felicidade.

Written by: Isabel Vilaverde
Agosto 2010

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

QUANDO PUDERMOS


Convidaste-me para um café,
Pretexto para conversarmos,
Sentámo-nos...
O silêncio reflectia-se nos olhares,
Aparentavas estar mais magro,
E eu, como estaria perante os teus olhos?
Vieram os cafés,
Sem pressa de os tomarmos, ficámos abstraídos
Com os nossos pensamentos,
Bebe, disse eu, após o ritual de abrir o pequeno pacote
E o diluir no líquido quente,
Tentativa de quebrar
A longa pausa do momento,
Fica frio, acrescentei,
Ah! É verdade ( lembrei-me),
Gostas do café frio e sem açúcar,
E tu, disse ele,
Gostas do café quente
E aromatizado com canela,
Sim, é verdade, ainda te lembras...
Como poderia esquecer? Disse, olhando-me nos olhos,
Não sei, já passou tanto tempo, disse eu,
Mas nada esqueci, nem de um só momento, disse ele.
Ah! Disse eu de novo, pegando no copo de água
Para preencher o vazio das palavras,
Como estás? (perguntei),
Como tens passado? (perguntaste-me),
O que queres que te responda?
Vou passando, disse eu.
Da análise inicial, passo à afirmação,
Estás mais magro...
E tu, estás igual, bonita, com o mesmo brilho no olhar,
Se soubesses da tristeza, tantas vezes chorei (pensei),
Bondade a tua, disse
Não, verdade inquestionável,
O mesmo olhar, o mesmo sorriso, disse sem desviar os olhos dos meus,
Estou mais velha, isso sim,
Para mim, estás igual!
Linda, como quando te conheci,
Obrigada, sempre cavalheiro, disse, meia desconcertada,
Mas quatro anos passaram por mim, por nós,
Ou nós por eles, já nem sei...
Pegámos nas chávenas,
Sincronizados no gesto,
Dessincronizados na vida,
Desculpa, disse eu,
Sentindo ainda algum desconforto
Pelo fim da nossa relação de três anos,
São horas, tenho de ir,
Pouco mais haveria para dizer
Naquele momento, ou em qualquer outro,
Talvez por falta de coragem
Depois de tão longo desencontro,
Obrigada pelo café!
Obrigado eu, pela companhia!
Vemo-nos por aí se quiseres...
Talvez, quando eu puder (disse),
Não sabendo se iria querer...
Sim, claro, disse ele,
Quando pudermos!

Written by: Isabel Vilaverde
Agosto 2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O TEU CHORO DÓI


Acocorou-se, pés descalços,
Junto a um buraco,
Fez uma conchinha com as mãos
E bebeu, sôfrego, a água suja
Da chuva que ali ficara.
Acalmou a sede,
Mas a fome sacudia-o de tal modo,
Que se deitou sobre as pedras
Por não aguentar mais as dores.
Os transeuntes passavam,
Com passos lentos ou apressados,
E quando um lamento surgia,
Abanavam as cabeças e seguiam as vidas,
Sem interrupções ou desvios...
Alguém cuidasse destas crianças!
Quantas crianças neste mundo, mosaico de contrastes,
De miséria exposta ou escondida,
De vaidades umbilicais...
Pequenino botão, de cabelos ao vento,
Olhos grandes de espanto, olhar de sofrimento,
Sem saberes porquê, vives na dor,
De braços estendidos, pedes somente amor,
Corpinho franzino de vestes puídas e sujas,
O teu choro dói no meu peito,
Que dor ver-te assim tão maltratado,
Pergunto-me, qual foi o teu pecado?
Sofres na espera de um colo para te acolher,
Nasceste para ser amado,
Mas és desprezado, pequenino Ser.

Written by: Isabel Vilaverde
Agosto 2010

sábado, 7 de agosto de 2010

PERCORRO A NOITE


Percorro a noite...
Perseguido pela sombra colada às minhas costas,
Mártir de mim, amargurado pela orquestra
De pensamentos desafinados que habitam a minha cabeça,
Toca, em cadências decadentes como eu,
Dobrando esquinas de becos sem saída...
Percorro a noite...
E, de passos lentos, respiro a vida
Que deixo escapar, à medida que os ponteiros
De um relógio, incrivelmente certo,
Fazem de mim um ser obediente, um sonhador,
Um idiota, um crente ou talvez não...
Nos bolsos, mãos vazias de ti...
Nos olhos, os contornos do teu corpo cingido ao meu,
Acendo um cigarro... maldito vício!
Inalo profundamente o fumo...
Soltando-o devagar, entrecortado de pausas...
Beijo-te em silêncio e guardo de ti o sorriso que me fez amar-te...
Percorro a noite...
Errante, o eco dos passos que teima em perseguir-me!
Não tenho sono, não tenho chão...
Dentro de mim corre um rio de solidão!
Preciso de te ter nos meus braços,
Para o Sol brilhar no meu coração.

(Dedicado à memória de um
grande amigo).

Written by: Isabel Vilaverde
Agosto 2010

sábado, 31 de julho de 2010

PENSO-TE


Caminho, pés descalços,
Enterrando os dedos na areia macia,
E, no espelho do mar, sonho a brisa que me acaricia,
Sinto a tua mão na minha pousar...
Lamento o tempo de não ter-te aqui
Invento...
Ausência sentida na ânsia de um beijo te roubar,
Um sorriso, um olhar,
De sentir o cheiro a maresia os nossos corpos inundar,
Ao pensar-te... o coração acorda-me no seu palpitar,
Desejo-te tanto...
E morre o desejo no dia que finda,
Ante a noite e o nascer do luar,
Caminho, pés descalços,
Guardo no fundo da alma o dia de te abraçar.

Written by: Isabel Vilaverde
Agosto 2010

quarta-feira, 28 de julho de 2010

RODOPIO DE VIDAS


Rodopio de vidas cravadas de espinhos,
Agrestes, vencidas,
Tu vertes a lágrima perdida, salgada,
Bebida na boca de beijos ausente,
Derramas a espera na luz do poente,
Memórias translúcidas de corpos suados,
Olhares consentidos, desejos rasgados que a noite embalou,
Tão puros, tão crente...
Meu doce aconchego, minha estrela cadente,
Rodopio de vidas agrestes, vencidas,
Eu verto a lágrima ao som do silêncio,
Transpiro a dor que calo no peito,
Adormeço em ti meu sonho desfeito.

Written by: Isabel Vilaverde
Julho 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

VEM


Vem... vento leve
Acariciar os meus cabelos,
Quando a noite sorrateira inquieta a minha dor
E desnuda o meu corpo sem pudor,
Vem... manto de estrelas iluminar os meus olhos,
Deitar-te nos meus sonhos, escutar os meus silêncios,
Vem... esperança vã, acordar os meus sentidos,
Abraçar-me de mansinho,
Até os raios do sol espreitarem a manhã devagarinho,
Vem... amor, atear esta fogueira,
Perder-te no meu mar,
Beijar-me como a lua beija a noite uma vida inteira,
Vem... brisa do mar, envolver-me no teu cheiro a maresia,
Dançar comigo nas ondas de espuma, escutar essa doce melodia,
Vem... areia fina, brincar na minha pele sedosa,
Abandonar-te nas minhas mãos, entrelaçar-me deleitosa,
Vem... escuridão, partilhar beijos arrebatados,
Carícias de amantes enlaçados,
Vem... sonho desperto, morrer ternamente no meu corpo,
Como fino brocado, prender-me nas teias da ilusão,
Cumprir o teu fado!



Written by: Isabel Vilaverde
Julho 2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

VENDEDOR DE SONHOS


Tu, poeta, vendedor de sonhos
Que vendes gemidos de tinta
Em alvas folhas de papel...
Que semeias palavras, em canteiros de solidão
Só para as veres florir de emoções
Devaneio da razão...
Não as deixes morrer nunca, poeta!
Quantas vezes julgas mortos os sonhos
Como terra árida...
Mas logo rasgam entranhas
Trazidos pelo vento que sopra
Das longínquas montanhas...
E as palavras ganham o brilho dos astros!
Florescem em versos fecundos
Como árvores seculares,
Rasgando universos e mundos!
Tu, poeta, vendedor de sonhos
Que vendes gemidos de tinta
Em alvas folhas de papel...
Extasia a minha alma
De estrofes vibrantes e belas,
Faz os meus olhos brilhar,
Cobre-me de beijos, na lua faz-me dançar...
Não me deixes morrer como raiz seca
Arrancada à terra!
Tu, Poeta, vendedor de sonhos
Que vendes gemidos de tinta
Em alvas folhas de papel...
Faz-me rir, faz-me chorar,
Faz-me sentir, deixa-me amar,
Vende-me os teus sonhos...
Faz-me acreditar!

Written by: Isabel Vilaverde
Julho 2010

SE EU PUDESSE VOLTAR...(Dedicado à Austrália)


Momentos tenho em que me ausento de mim,
Para reencontrar caminhos, sentir cheiros,
Deslumbrar-me com paisagens,
Revisitar lugares distantes do meu
Onde sonhei, vivi e amei,
Onde as falas e risos eram francos,
E a palavra amizade aquecia o coração.
Viajo até onde a memória me leva,
Volto, de novo, a esse lugar...
A dor da tua ausência caminha, lado a lado,
Com a minha solidão.
Se eu pudesse, corria a ver essas praias de mar revolto e de areias finas,
Corria a ver essas gentes de pele bronzeada,
De cabelos frisados e de sorrisos alvos,
De olhares esperança,
Corria a ver outras gentes,
De vestes e credos tão diferentes,
Se eu pudesse pegar nos pedaços de madeira
Finamente trabalhados,
Cobertos de linhas, círculos, pontilhados,
Tingidos da cor da terra, do escuro da noite,
Da alva espuma das ondas,
Se eu pudesse olhar de novo o teu pôr-do-sol,
Morrendo num rubro poente,
Detrás desse rochedo imponente,
Tenho saudades de beber o chá de hortelã
No meu aconchego preferido,
Servido entre sorrisos e simpatia,
Escolher a música romântica na Juke Box
E perder-me de conversas, como sempre fazia,
Tenho saudades de ouvir, sentada nas horas mortas do dia,
Debaixo do alpendre, o canto das aves ao recolherem,
Se eu pudesse novamente regressar ao encontro dos teus braços abertos,
Ah, se eu pudesse voltar!

Written by: Isabel Vilaverde
Julho 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

BARRAGEM DE CASTELO DO BODE

DESPEDIDA



Esta vida mal vivida entre a saudade e a incerteza,
Traz-me triste e amargurada,
Sinto o vazio, o nada...
E nada tenho para te dar,
Apenas um deserto imenso onde luto para me encontrar,
Onde penso... penso... penso, quão efémero é o meu ser...
Quantos sonhos ficarão por cumprir, quantas palavras por dizer...
Nesta vida mal vivida de não ser,
O tempo... que o tempo consumiu,
Tão depressa, tão volátil,
Sem dó nem piedade o meu sorriso extinguiu,
Partiu com ele o amor, a dor, tudo o que era meu,
E numa noite fria, magoado o coração, nunca mais bateu.

Autora: Isabel Vilaverde
15 de Setembro de 2009


Imagem: Google.



A PROPÓSITO DE UM LIVRO



Os livros não precisam de ser densos ou de linguagem rebuscada. As palavras, simples, explicam, genuinamente, a complexidade dos seres humanos. Mas, mais do que as palavras, são os sentimentos de que estas se vestem que exaltam as emoções, nos denunciam e nos aproximam uns dos outros. Um olhar, uma recordação que emerge da nossa memória, um desejo que o silêncio abraça e o gesto traduz, a vivência que cada um carrega, faz de nós seres únicos. Todos precisamos de um "deserto" para nos encontrarmos e valorizarmos. E é, nesse deserto, que nos libertamos longe de tudo, dentro do nada, do absoluto.

Obrigada, Miguel Sousa Tavares, por mais um belo livro " NO TEU DESERTO ".

18 de Setembro 2009

PORQUE NUNCA ME AMASTE?


      Porque nunca me amaste? Esta seria a pergunta que, se tivesse coragem, te faria. Passaram muitos anos, vinte e nove anos de uma vida, a minha, sem nunca saber sequer o que é sentir um beijo teu. Ano após ano, sem olhar o teu rosto, sentir o teu cheiro, esconder-me nos teus braços, sentar-me no teu colo ou simplesmente brincar contigo.

      Não sei como são os teus olhos, a cor dos teus cabelos, o teu sorriso. Não sei como és... Dizem que sou parecido contigo, não sei. Todos os anos há Natal e aniversários. Todos os anos há o "Dia do Pai". Todos os anos, até agora, nunca houve nenhum desses dias para mim, ao teu lado. Sei que vives perto, mas sempre longe... Sei que nunca me quiseste. Sei que me rejeitaste ao nascer ou melhor, que me abandonaste à minha sorte mesmo antes de eu nascer! Porquê? É tão difícil assim amar uma criança? Não sei se alguma vez te perguntaste porque o fizeste. Se foste capaz. Sei, apenas, que nos perdemos um do outro neste espaço, neste tempo que poderia ter sido de amor, de cumplicidade e de partilha, entre pai e filho. Decerto, sentir-me-ia mais feliz. Aliás, devo confessar-te que não sou feliz, não sei o que é ser feliz e penso que  não o sejas também, és? Vivermos a vida pela metade, só pode trazer dor e sofrimento. Hoje, a minha realidade é um cúmulo de dúvidas, de incertezas, de medos e desconfianças, porque nunca pude,  uma única vez dizer, a olhar para ti:  "Feliz Natal", "Parabéns pelo teu Aniversário" ou "Feliz Dia do Pai, amo-te". Comprometeste o teu e o meu futuro. A tua e a minha vida ficaram mais pobres. O meu sofrimento é permanente. Não sei se sabes o que é sofrer. Talvez, nesta indecisão que me tem acompanhado, a par com esta angústia, ganhe um dia coragem para, em vez de te escrever, ir ao teu encontro. Nada é permanente e imutável. Todos somos o que conseguimos construir ao longo da vida. Não devemos ter vergonha de cair. Todos erramos. Todos nos sentimos, em muitas alturas da vida, inseguros e frágeis. O mais importante é a coragem com que nos levantamos e olhamos o caminho à nossa frente. Tenho momentos que não sei se tenho forças para me levantar. Digo-te com toda a franqueza e reforço, afinal não me conheces. E, se nos cruzarmos na rua, não sabes quem eu sou. Mas devo dizer-te que eu sei. Sei onde moras, sei o café que frequentas, sei o carro que conduzes, sei como te vestes. Tudo faz parte da tua imagem exterior, não é? Aparentas, para os outros, ser um sujeito simpático. Mas, por dentro, não te conheço.
Não penses que ao escrever-te, estou a desculpar-te ou a perdoar-te. Não sei sequer o que sinto por ti... Vivo num abismo de incertezas e de perguntas por fazer. E se fosse ao teu encontro, como poderia saber a cor dos meus sentimentos? Entre nós corre um rio vazio de abraços... e de palavras.
Não consigo traduzir, nestas linhas, tudo o que me incomoda e dilacera por dentro. Provavelmente também não o conseguiria expressar, olhando para ti. A palavra, "Pai", existe apenas no meu imaginário, não a sinto. Nunca a digo. Nunca a disse. Devo dizer-te que gostaria de a ter dito, sempre, de lhe conhecer o significado.
      Talvez um dia decida ir ao teu encontro, sim. Talvez, nesse dia, encontre o teu lugar vazio. Não poderei, se assim for, olhar-te nos olhos e perguntar-te: porque me abandonaste? Também não poderás ver o meu olhar carregado de raiva e mágoa ou, frio e distante ou... não sei!
Se encontrar o teu lugar vazio... O que poderei esperar mais? Afinal as nossas vidas não têm sido sempre um desencontro?


Written by: Isabel Vilaverde
12 de Setembro 2009
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3 Comments
Luiz Says:
A descrição de abandono fere os olhos o coração, não faço perguntas porque essas nem tu as tens. Simplesmente pergunto a mim mesmo, como é possivel acontecer deixar para trás parte do nosso corpo sem ter remorsos?
Um texto cheio de lágrimas…um dia irás dizer-lhe “Feliz Natal”

July 7th, 2010

blood pressure Says:
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July 8th, 2010

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Isabel Vilaverde

July 9th, 2010
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sexta-feira, 2 de julho de 2010

ESTAREI LOUCA?


Estarei louca?
Estarei louca tanto ou mais
Do que vós estais...
Não sois diferentes de mim, somos todos iguais!
Nos sonhos e nos desejos, e em tudo o mais.
Somos os loucos à procura de ser felizes,
Nesta vida de mosaicos e matizes,
Mas, quantas vezes o esqueceis?
Umas vezes bobos somos, outras Reis...
E a verdade, procurá-la-eis sempre, dentro de vós!
Mas nem sempre a encontrareis,
Pensai, antes que seja tarde...
E do mar se levante a tempestade.
Estarei louca?
Assim vós estais, para viver a vida
E amar cada vez mais!

Written by: Isabel Vilaverde
Julho de 2010

VIVER SEM TI


Tu envelheces, eu envelheço...
As memórias percorrem todas as veias do meu corpo,
Os risos que trocámos, os beijos que saboreámos
Desejam-te de novo,
E as mãos entrelaçadas, conduzem-me neste espaço vazio,
Sempre que estou triste, a força dos teus abraços conforta-me,
Quando te ouço, as tuas palavras libertam-me,
Tu envelheces, eu envelheço...
É difícil viver sem ti...

Written by: Isabel Vilaverde
1 de Julho de 2010

segunda-feira, 28 de junho de 2010

DOS LÁBIOS DOCE MEL


Sinto um torpor percorrer-me o corpo,
Procuram-te os olhos na ânsia de te ver,
Desejo vão que a noite esconde,
E o sonho mata lento...
Encontro-te finalmente na poesia,
E canto, nos versos que escrevo, o teu sorrir,
O sonhar das tuas mãos nas minhas apazigua-me,
Desejo viver com sentido e emoção esta vida,
De verso em verso, procuro a razão deste vazio a que retorno sempre,
Sinto frio...
Abraça-me noite, em raios de luar e carinho,
Envolve de mansinho o corpo que te procura,
Guardo no peito este amor puro,
Talvez um dia as minhas noites se vistam de paz,
E os dias transbordem de alegria por te receber,
Dos lábios, doce mel, brotem palavras, as que ficam agora por dizer.


Written by: Isabel Vilaverde
Junho 2010

quinta-feira, 24 de junho de 2010

SONO... SONHO


Sonho perfeito vigias a minha dor,
Imaculado de pecado, toca-me um amor ideal,
Vagueia no crepúsculo etéreo da minha alma,
Sonho, acalentas a esperança que o romper do dia reduz,
Quero ficar no teu sono perpétuo,
Onde o labirinto tortuoso do passado já não me faz chorar,
Sono, sinopsia da minha paz,
Génese do tempo, dicotomia da vontade,
Sonho, deixa-me ficar na busca da verdade,
Nessa simbiose perfeita, entre o ser e o estar,
Metamorfose do querer, entre o desejo e a felicidade,
Clivagem entre a abstracção e o poder,
Sono, deixa-me ficar prisioneira deste sonho, deste tempo de amar.


Written by: Isabel Vilaverde
Maio de 2010

sábado, 19 de junho de 2010

IN MEMORIAE - JOSÉ SARAMAGO (1922-2010)


Hoje estou triste... perplexa,
O riso partiu dos meus lábios,
Senti na carne o rasgar da lâmina,
E o coração abriu-se em pétalas de emoção,
Braços tolhidos de abraços por dar,
Se um dia os meus passos os teus pudessem encontrar...
Deixaste os meus olhos suspensos de um olhar vazio...
Hoje, levaste para sempre as palavras  e a saudade deixaste
No meu peito a morar,
As lágrimas  lavam-me o rosto aflito,
Mas sinto-te próximo, tão próximo,
A força da palavra nunca morre!
Guardo-te vivo nas obras que leio e penso contigo.

Written by: Isabel Vilaverde
18 de Junho de 2010

SINGULAR E GRANDE (Homenagem a José Saramago)


Olhas, sereno, cada pedra do jardim,
Sentado, de braços cruzados,
Observas as flores minúsculas que rompem, incrédulas,
Por entre as outras de encanto sem fim,
Passeias os olhos pelas árvores, uma a uma,
Abraça-las em jeito de despedida,
E pensas no tudo e no nada, na morte e na vida,
Na palavra dita e na que fica por dizer...
E agradeces, não a um Deus, mas aos homens de boa vontade
Que te prolongaram a vida,
Para que pudesses escrever,
Mais umas  palavras de tantas que tinhas por dizer...
Num momento  o teu corpo adormece no sono perpétuo,
Fica dentro de nós a consciência desperta,
De um dos escritores maiores que sempre serás,
Trabalhador da palavra, arquitecto da razão,
Amigo dos que não têm voz, Homem do mundo,
Singular e grande,
Por ti chorará o meu coração.



Written by: Isabel Vilaverde
18 de Junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

HOMENAGEM A JOSÉ SARAMAGO


Se pudesse olhar-te nos olhos...
Dir-te-ia o quão grata estou por te ler,
Falar-te-ia da alegria imensa sentida por beber as tuas palavras,
Por partilhar das tuas ideias,
Por me inquietar com as tuas reflexões,
Albergo, no peito, um sentimento imensurável
De admiração por ti,
Foste um grito de luz, uma inspiração permanente,
Na defesa dos valores
Do pluralismo e da liberdade,
Da solidariedade e do amor,
Mais do que "o não ser"
Era para ti, "o não estar..."
Mas digo-te, com toda a propriedade
E de coração aberto,
Estarás sempre presente,
É perene o teu ficar na obra que deixas,
Na memória que guardo de ti,
E hoje, sim, hoje, dia da tua viagem sem retorno,
Sinto-me  muito mais rica e feliz por teres existido.
OBRIGADA, JOSÉ SARAMAGO!

Written by: Isabel Vilaverde
18 de Junho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010

OBRA INACABADA


Eu sou a obra inacabada... e tu contemplas-me,
Gostas de mim,
Então gostas da minha imperfeição,
Perfeito...!
E sabes o que quero ser e não sou,
Gostas da minha transmutação,
Abstraio-me, ausento-me,
Regresso e caio, levanto-me,
Invento um mundo feliz mas choro...
Sonho acordada, mergulho no nada,
Risco aqui, preencho ali,
Rasgo acolá, remendo além...
Ganho coragem para seguir nesta viagem,
Pinto na tela da vida o tudo e o nada,
E mesmo assim contemplas a minha obra...
Eu estou nela, e tu és o fio condutor que vem até mim,
Sinto-te presente,  sei que és diferente,
Porque compreendes e aceitas a minha imperfeição!
Eu sou a obra inacabada, o motivo da tua contemplação.

Written by: Isabel Vilaverde
Junho 2010

sábado, 12 de junho de 2010

PARTILHAR SILÊNCIOS



Não escrevo todos os dias, como gostaria. Há dias, até, que os pensamentos correm de tal modo velozes e desordenados, que não consigo transcrevê-los para o papel. Fico, então, serenamente a escutá-los, como uma aluna, atenta, escuta o seu professor.
Quando o dia sucumbe, acorda em mim a vontade de me tornar íntima desse branco imaculado. Em grafia imprecisa, escrevinho o que me vai dentro. Fascina-me a noite, as luzes, as sombras, os contornos indefinidos, a cidade adormecida... E as emoções emergem, tumultuosas, do meu ser. Finjo que estás aqui... que me olhas apenas com esse olhar cúmplice de quem sabe partilhar silêncios...
Fazes-me falta. Saber que, mesmo longe, estavas comigo a qualquer hora...
O que é o tempo? A distância? Senão um lamento sussurrante da saudade que sentimos quando amámos alguém... Eu amei-te, sim. Ainda te amo.  Hoje a saudade mora em mim. Não sei se para todo o sempre, não sei... Apenas sei que te guardo, como uma doce recordação, porque ajudaste a iluminar a minha vida.


Written by: Isabel Vilaverde
12 de Agosto de 2009
(@Todos os Direitos Reservados).

Imagem: Google.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

DOCE MOMENTO


Nas veredas do teu corpo acorda-me o desejo de amar,
E no intervalo de um beijo outro beijo te quero dar...
Visto-me de seda e paixão, iluminam-se os cabelos de luar,
Procuro os afagos das tuas mãos, e os teus braços fortes como o mar...
Deito-me em ti, doce momento,
Esqueci a dor, perdeu-se no tempo,
Tudo em mim floresce e ri, ao guardar-te dentro de mim...
Meu pássaro libertador,
E é de olhares e silêncios, de espinhos, rosas e incenso,
Que construímos o nosso amor.

Written by: Isabel Vilaverde
11 Junho 2010

domingo, 6 de junho de 2010

GAIVOTA FERIDA


Gosto mais de ver-te ao pôr-do-sol, mar...
Escutas as minhas angústias,
Aninhas-me nos teus braços de espuma leve,
Mar... que guardas  minhas lágrimas em ti,
E me beijas como o Sol beija a montanha,
Não sei se hei de cantar-te,
Pela paz que me transmites, oh mar...
Se hei de amar-te como meu berço,
Ou sonhar dentro de ti, deixando-me ficar...
Perder-me, para sempre, de palavras e  pensamentos, fechar os olhos às tuas marés,
Aos poentes laranja do Sol,
À saudade e aos ventos que me empurram
Para onde não quero ir...
Ficar dentro de ti... despir-me da solidão que me assola
Como amarras enegrecidas,
Presa a um porto sem barco, sem timoneiro,
Partir desta vida que me sufoca...
Que posso ainda esperar?
Gaivota ferida que na praia repousa esquecida,
Esvaecendo suspiros em tons de despedida,
Ante o silêncio e o mar.

Written by: Isabel Vilaverde
6 Junho 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A SOLIDÃO DE MARIA


Uma sensação de impotência e desânimo abateu-se sobre a Maria. Deambulava pelas ruas, pela calçada de pedras irregulares, sentia os pés doridos de tanto caminhar. Caminhava sem destino. A cidade, gigantesca, de prédios altos, cheia de carros, de rostos anónimos, de olhares que se cruzavam, sufocavam-na. 
Os pensamentos causavam-lhe desgaste, sentia-se desesperada, queria encontrar uma saída mas as portas fechavam-se, uma a uma... Olhares cordiais mas frios, palavras gastas, repetitivas, ouvidas vezes sem conta ou, simplesmente, a ausência delas, denotando a mais profunda insensibilidade... Tudo isso lhe roubava a vontade de continuar a viver.
Só e sem o apoio de um companheiro, dos pais, de uma família, cheia de medo pelos filhos que dela dependiam, um deles doente, sentia cada vez mais perto as garras do desespero a cercá-la, a açoitá-la impunemente. Passavam-lhe pensamentos tristes pela cabeça. Procurava uma solução para os seus problemas, mas o desemprego tinha-a atirado para o fundo do abismo, lamacento e poderoso.
Naquele dia, pensou que a porta aonde iria bater se abriria, finalmente. A Maria pensou, levou a esperança consigo, mas a porta apenas se entreabriu para, logo a seguir se fechar.
Uma cidade enorme, tanta gente... e ela tão só, sem saber para onde ir, onde procurar mais, o que fazer.
Tentava preservar a dignidade, a custo, viver de aparências... Sabia que a Sociedade maltratava, marginalizava, condenava sem pudor, fingia aceitar as diferenças sociais mas, no fundo, era hipócrita e redutora.
Havia quem, supostamente, deveria exercer o papel mediador de ajuda, de aconselhamento e orientação, para a abertura de novos caminhos,  e prestar a assistência de que Maria e a sua família careciam. Ao invés, e sem que ela entendesse, esse alguém, exercia uma perseguição e pressão cerradas, intencional, com o propósito de espezinhar e atentar contra os mais elementares direitos, consignados na Constituição da República Portuguesa: o direito à sua privacidade e intimidade de sua casa, fazendo-se valer de uma lei estúpida e inconstitucional, que há muito deveria ter sido revista, na sua forma e conteúdo. Esse alguém, demonstrava nas abordagens a Maria o mais profundo desrespeito por ela e pelos seus filhos, não se importando com o sofrimento de uma família.
Ela queria gritar, mas já nem forças tinha. Estava a desistir de tudo...
Amigos, no sentido literal do termo, não tinha. Perdera-os com o divórcio ou melhor, nunca os tivera, verdadeiramente. Os amigos, quando verdadeiros, permanecem nos momentos de maior aflição.
Tinha-se tornado uma mulher solitária e o desespero apoderara-se de si, como tentáculos de um polvo a apertá-la, a roubar-lhe os sonhos, o desejo de ser feliz.
Maria era uma mulher muito bonita, por dentro e por fora. Era preciso conhecê-la para que se apercebessem da sua generosidade. Quando não se sentia ameaçada, abria as portas do seu coração, era  uma pessoa doce, uma simpatia, uma mulher com um enorme sentido de responsabilidade.
As vicissitudes da vida, levaram a que nem sempre tivesse feito as melhores escolhas, quer por imaturidade, mau aconselhamento ou pressões familiares. Agora sofria na pele as consequências.
Um casamento desfeito, um marido que fora prepotente, opressor e agressor, e os filhos com que ficara.
Ela vivia a maior das solidões e pensava pôr termo à existência. Estava à beira da loucura, perdida, numa cidade onde tantas pessoas se cruzavam, alheias ao seu sofrimento, onde a ausência dos afectos, de uma mão verdadeiramente amiga, era uma realidade pesada.
O que poderia representar para a Sociedade? Que valor teria? Teria valor, sim, apenas para os seus filhos... para mais ninguém. Para o Estado, seria apenas mais um dado estatístico, um número...
E o Governo apregoava, à boca cheia, através do seu representante, o Sr. Primeiro-Ministro, Engº. José Sócrates, que a crise era uma miragem, um devaneio da oposição, que iria cumprir as metas do crescimento económico e que as estatísticas não eram fiáveis... Que o desemprego estava a baixar... Que os grandes investimentos tinham  que se cumprir, a bem do progresso e de um país moderno...
Não, Sr. Primeiro-Ministro! Um país cada vez mais pobre, um país de muitas Marias sofredoras, um país à beira do colapso social, um país de pobreza envergonhada, de famílias desesperadas, um país de seiscentos mil desempregados, por enquanto... Portugal, o meu país!!


Written by: Isabel Vilaverde
Junho de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

SOMOS SERES COM COMPAIXÃO?



Se é verdade que todos nos perdemos uns dos outros pelas vicissitudes da própria vida, também não é menos verdade que nos aproximamos uns dos outros, nos momentos de maior sofrimento.
Perante tais circunstâncias, como por exemplo, a morte de um familiar, um acidente de viação do nosso melhor amigo, paramos para meditar sobre a vida, a condição humana, quão efémera é, quão frágeis  nós somos...
Perante a inevitabilidade, percebemos que a vida é demasiado preciosa para tantas vezes a desvalorizarmos. Como tal, confrontados com a dor que nos dilacera, passamos a valorizá-la, dando atenção às pequenas coisas e aos momentos partilhados.
Todos somos, mais ou menos, egocêntricos. Achamos sempre que a nossa dor é diferente da dor sentida pelo outro. Na verdade a dor é uma só, com milhares de rostos, somente exteriorizada de modo distinto, de acordo com as raízes culturais de cada um e com a capacidade pessoal em lidar com ela.

Mas, ponderemos um pouco: somos seres com compaixão? No sentido lato, não creio. Não me refiro à compaixão subjacente às religiões.
Refiro-me, sim, à compaixão que existe em nós, à nossa disponibilidade interior para nos darmos aos outros, tão  pouco visível ainda,  tão pouco praticada, nesta Sociedade cada vez mais solitária, na qual se morre de solidão...
E morre-se de solidão nos grandes centros urbanos, em casa, num qualquer canto na rua... Porquê? Porque estamos distantes uns dos outros, exactamente por falta de compaixão.
Se todos pudéssemos fazer um esforço para aprofundar os sentimentos da partilha, da proximidade e do altruísmo, saberíamos viver com compaixão.
É, através da compaixão, que as Sociedades se poderão tornar mais justas, mais humanizadas, mais fraternas e mais fortalecidas.


Autora: Isabel Vilaverde
Maio 2010

Desenho: Autor desconhecido.


segunda-feira, 24 de maio de 2010

COMO SÃO OS LAÇOS FAMILIARES HOJE EM DIA




           Os afectos são, por vezes, relegados para segundo plano e o sofrimento instala-se. São os nossos familiares mais directos que sentem essa realidade. O mundo dos afectos tende a ficar esquecido face ao mundo da competição desenfreada, da realização profissional, do status social. O ter, o parecer, passou a ser o centro das preocupações de muitos. São estas algumas razões pelas quais gravitam à nossa volta tantas pessoas insatisfeitas e infelizes.
            Se a realização profissional é importante na vida de cada um de nós, a família deve ser tão ou mais importante. Amarmos mais, reflectirmos sobre a nossa insatisfação, é  sabermos encontrar o tal caminho para a felicidade.
O tempo corre e quantas vezes o desperdiçamos com futilidades, quando o poderíamos direccionar para o mundo dos afectos...
Chegamos a casa cansados, depois de mais um dia de trabalho, perguntamos à pressa aos nossos filhos ou companheiros(as) como correu o dia e, ainda estes não responderam, já estamos a virar costas, numa atitude de manifesto desinteresse pelo outro. O tão falado stress instala-se, subtilmente, intromete-se nas nossas vidas e  prejudica-nos de tal modo que nem nos damos conta.
O mais preocupante é que pouco fazemos, também, para combater as atitudes geradoras da mencionada instabilidade emocional que acaba por nos conduzir ao sofrimento.
Contudo, reconhecemos, de vez em quando, que não estarmos bem, mas o encolher de ombros surge, porque nos deixamos envolver nos tentáculos perniciosos do stress, perdendo o sentido de melhor viver e deste mosaico incrível que é o mundo, tão pleno e tão rico.
           Saber estar, sentir, ouvir, apreciar com tempo e com calma. Observarmos a vida, na sua essência, saber ser espectadores de nós próprios, é necessário para procurarmos a causa dos nossos medos, das nossas inseguranças e insatisfação, e retornarmos o caminho da paz e da serenidade.
A vida é uma dádiva perfeita, que temos o privilégio de usufruir, mas quantas vezes a desvalorizamos...
Os laços familiares são, hoje em dia, mais ténues. Há um afastamento visível entre pais e filhos, entre cônjuges, imposto pelos imperativos da vida actual, que é preciso combater. Não há tempo para o outro. Passamos a vida a dizer: "não tenho tempo para isto...". As preocupações, as dores, as decepções, agudizam-se ainda mais  na ausência do diálogo. As pessoas sentem-se mais sós, a viver uma espécie de "voto de silêncio" forçado.
           Como escreveu, certo dia, um amigo meu: "A Sociedade ensina a vencer na vida, a ter êxito, mas não ensina a amar...".
         É verdade. A Sociedade transforma-nos em seres automatizados. As emoções perdem-se neste fervilhar, neste corre-corre de horários a cumprir e de tarefas a executar.
Subjugados e ausentes, agimos, cumprimos, e quase nunca paramos para questionar.
Reflictamos, pois, um pouco mais.  Estreitemos os laços familiares porque a família é a base, o sustentáculo imprescindível para nos afirmarmos como pessoas inteiras e felizes.

Até breve,

Autora: Isabel Vilaverde
Maio 2010






sábado, 22 de maio de 2010

AO QUE DAMOS VALOR HOJE EM DIA


      Ao que damos valor hoje em dia, é uma reflexão que faço muitas vezes. Numa sociedade cada vez mais exigente e competitiva, na qual somos "treinados" para vencer, para sermos "o" ou "a" melhor entre os melhores, caímos na teia, quase inevitável, da abstracção dos valores base, fundamentais à formação do ser humano.
      Nas filosofias orientais, por exemplo, apela-se à serenidade, à calma mental e ao equilíbrio. A sabedoria, é o caminho para atingir a felicidade. Segundo a filosofia Budista, é da sabedoria e da compaixão que provém a lucidez de poder usufruir de tudo, em termos materiais, sem se ficar ligado a nada.
      Actualmente somos inundados com "montanhas" de publicidade, cada vez mais apelativa, quer seja através dos "Media" ou da Internet ou de cartazes colocados, estrategicamente, nas grandes superfícies comerciais e noutros locais públicos. Somos, mesmo sem o querer, apanhados nessa enorme teia que nos absorve e suga os nossos pensamentos mais puros... Mostra-nos, muitas vezes, à distância de um clique ou de um simples gesto, o caminho para a felicidade que julgamos obter, através da compra do carro desportivo, da casa dos nossos sonhos, das férias de luxo... Slogan: "a conquista da felicidade através da conquista material..."
O que conquistamos, isso sim, é ansiedade, instabilidade e sofrimento.
Fazer depender a felicidade dos bens materiais, centrarmos a luta do dia-a-dia na sua obtenção, é um erro. Quanto mais o fizermos, menos hipóteses temos de ser felizes. Chegados aqui, não precisamos de evocar os inúmeros exemplos que ilustram bem esta realidade.
A felicidade é como um gráfico. Depende da nossa vivência interior, dos momentos de exaltação, do nosso bem-estar físico e emocional.
      Amar, aceitar, agradecer o que temos e valorizar quem somos. Evidentemente que só os valores essenciais à formação do ser humano, são os responsáveis por uma existência mais feliz e uma felicidade mais duradoura. A proximidade, a tolerância, a consciência e a aceitação dos nossos defeitos, implica a aceitação dos defeitos dos outros e, consequentemente, que não somos perfeitos.
Na proximidade, estabelecemos e desenvolvemos laços de afectividade. Na tolerância, aceitamos as diferenças, contribuímos para uma sociedade mais humanizada, ao desenvolvermos sentimentos altruístas. Exercemos, assim, uma melhor interacção com todos, quer sejam os nossos familiares, amigos ou colegas de trabalho.
Procurarmos sempre ter uma atitude positiva, assertiva perante a vida, mesmo nos momentos mais difíceis, cuja inevitabilidade toca a todos, como parte do nosso próprio percurso e crescimento.
      Os filósofos gregos diziam que, uma vida boa passa pela felicidade com lucidez, e pela sabedoria com acção. Um pensamento perfeitamente aplicável ao presente. Pensar - Sentir - Agir, eis o trinómio para atingir o objectivo.
E, voltando aos valores fundamentais que devem nortear os nossos comportamentos, verificamos que por tudo o que se disse, valorizamos, infelizmente, mais o "acessório" e menos o "essencial".
Passemos, pois, a fazer no nosso dia-a-dia, o oposto.


Isabel Vilaverde
Maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

MULHER-ESTÁTUA DE ALMA NUA



Jazia sentada de vestes finas
E pele arrepiada,
Olhar afixo, ausente,
Sob a luz difusa das estrelas
Que a noite branda deixava espreitar.
Os lábios, num murmúrio vago,
Soltavam sons inaudíveis
Que só a alma dormente sabia escutar.
Gotas cristalinas bordavam a face,
Como ribeiros de água fresca fecundando as pedras,
Caminhos serpenteados de pureza virginal.
A brisa, suave e leve, secava-lhe, docemente, o rio de saudade.
Ali permanecia sentada, mulher- estátua de alma nua,
Cheia de sonhos por desbravar,
Plena de palavras e de silêncios por desflorar,
Coração minguado à espera que o Sol nascesse,
Lhe trouxesse um abraço envolvente
Ao acordar das manhãs...
Beijos perfumados de flores de jasmim,
Um amor diáfano que rasgasse entranhas,
Que percorresse caminhos
E derrubasse montanhas...
Jazia sentada de vestes finas
E pele arrepiada,
Braços prostrados num regaço vazio,
À espera de outros braços
Que a resgatassem do frio!

Autora: Isabel Vilaverde
(@Todos os Direitos Reservados).
Maio de 2010

Imagem: Google.

sábado, 15 de maio de 2010

NO SUL DA MINH' ALMA


Acordam madrugadas
Vestidas de vento e chuva
E lá, no sul da Minh' alma,
Fico quieta, de pensamentos vagos...
Repouso, leve, as minhas mãos nas tuas...
Observamos demoradamente as luas
Que nos envolvem o olhar triste,
Lá, no sul de outros mares agrestes,
De barcos naufragados e portos vazios,
De sonhos distantes e abraços ausentes,
Deito-me e adormeço a minha solidão.

Written by: Isabel Vilaverde
Maio de 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

VAGUEIO MUNDOS


Por vezes desencontro-me de mim,
Parto em busca de outros mundos,
De outros sentires e olhares,
Navego oceanos e mares...
Descubro montanhas silenciosas,
Vales escondidos vazios de corpos,
Penetro na vegetação virgem e densa
E sinto-me verdadeiramente livre...
Sem amarras nem violência,
Pássaro liberto
Que em plenitude voa...
Busco um mundo de laços fraternos
Que o Homem ousa negar,
Na solidão das horas deixo-me ficar
Tão longe de tudo...
Encontro-me com a verdade,
A paz paira sobre mim...
Desato o nó na garganta
Sequiosa de liberdade,
Fundo-me no Universo
Para cumprir meu fado,
Com alma e emoção
Amo sem amanhã...
Porque o hoje é já bastante!
Prendo-me e desprendo-me de mim,
Vagueio mundos, errante...
Trago no coração um luar de amante,
Amo com compaixão,
Todos e cada um.

Written by: Isabel Vilaverde
Maio de 2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

BREVE


Olho-me ao espelho,
Mostro apenas metade de mim,
A outra metade
Busco-a incessantemente
Num desalento sem fim,
O que procuro não sei...
Dobro caminhos,
Rasgo sonhos apavorada,
Entre noites e solidão
Adormeço cansada...

Olho-me ao espelho,
E chego a ter medo
De me ver transfigurada,
Como a folha que seca e cai,
Sem vida pelo vento levada,
Visto o corpo de seda pura,
Sinto-a deslizar na pele nua
E o arrepio percorrer-me...
Passo as mãos pelos cabelos
Num gesto leve...
Espero o tempo de amar
Me seja breve.

Written by: Isabel Vilaverde
Maio de 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

NAS PLANÍCIES DO TEU CORPO


Nas planícies do teu corpo
Entrego o desejo feito seara ao vento,
E este braseiro do Sol
Que me consome, lento...
E esta chama inglória
Que rompe meu peito,
Traz-me a memória
De um sonho por cumprir...
Rendo-me aos teus beijos,
E as mãos tocam-se como sedas
Num fogo aceso...
Incendeiam-se os lábios
Sensuais e quentes como Estio,
E as bocas, loucas,
Atravessam pontes em desvario...
E navego... navego mar dentro,
Balançando nas ondas de ternura
Que os teus braços me oferecem,
Depois, deito o corpo na noite escura,
Em lençóis de alva brancura,
E os meus olhos humedecem...
Rasgo sorrisos e solto gestos
Que te aninham no meu corpo
Feito brisa...
E as palavras que dizemos, amor,
São já um vaivém de dor e despedida,
Um cais de encontro e de partida...
Nas planícies do teu corpo,
Entrego o sonho de amar-te
Mais do que a própria vida!

Written by: Isabel Vilaverde
Abril de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

NAS ASAS DO VENTO


Espero-te todos os dias,
Como as manhãs esperam o Sol,
O dia morre...
E tu não vens para me abraçar.
Desejo-te todas as horas,
Como pássaro livre voando
Nas asas do vento,
Dentro de mim, lento,
O tempo morre...
E tu não vens para me beijar.
Imagino-te dançando
Sobre o meu corpo, ao luar,
Carente das tuas mãos,
A noite morre...
E tu não vens para me amar.
Esmorece o céu de estrelas,
E o dia rompe de novo
No silêncio da tua voz,
O grito morre...
E tu não vens para me escutar.
Procuro nos teus olhos,
O doce olhar nos meus,
As pálpebras descem devagar,
O olhar morre...
E tu não vens... tu nunca vens...
Deserta a alma para te encontrar.

Written by: Isabel Vilaverde
Abril 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

AMAR


Porque nunca estás aqui
Quando te desejo?
Espero-te... sem nada esperar,
Dou-te beijos longos e húmidos
Sem nunca te tocar...
E percorro-te lentamente,
Abraço-te carinhosamente,
Sem nunca te abraçar...
Deito-me devagar
Sobre o teu corpo,
Fundo o meu querer
Na conjugação do verbo amar...
Eu amo... tu amas... nós amamo-nos...
A tua pele sabe-me a sal,
Os teus lábios a mel,
E a tua voz, melodia ímpar,
Provoca-me arrepios
Como abismos que quero visitar...
Agarra ternamente
Os meus cabelos longos e negros,
Cinge-me com doçura a cintura...
Abraça-me na tua teia,
Prende-me na tua insarável loucura...
Ama-me sem pudor,
Escreve em mim a palavra amor.
Sente o meu respirar
Escuta o bater do meu coração,
Neste gemido liberto,
Nesta dança de corpos feita sedução,
Canta comigo, amor, os versos da mesma canção.


Written by: Isabel Vilaverde
Abril de 2010


DEIXEM-ME CHORAR


Os desejos podem transmutar-se,
Os sentimentos iludirem-se,
E a vida acabar sem ter sido vivida...
Sons da minha mente dispersos e eu só...
Imagens que quero reviver,
E a solidão fecha-me neste entardecer...
Resta-me o silêncio, a quietude das montanhas, a força do mar,
Às vezes abismo difícil de transpor...
No "eu" mais íntimo de mim...
Deixem-me chorar.

Written by: Isabel Vilaverde
Abril 2010
 
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