terça-feira, 25 de maio de 2010

SOMOS SERES COM COMPAIXÃO?



Se é verdade que todos nos perdemos uns dos outros pelas vicissitudes da própria vida, também não é menos verdade que nos aproximamos uns dos outros, nos momentos de maior sofrimento.
Perante tais circunstâncias, como por exemplo, a morte de um familiar, um acidente de viação do nosso melhor amigo, paramos para meditar sobre a vida, a condição humana, quão efémera é, quão frágeis  nós somos...
Perante a inevitabilidade, percebemos que a vida é demasiado preciosa para tantas vezes a desvalorizarmos. Como tal, confrontados com a dor que nos dilacera, passamos a valorizá-la, dando atenção às pequenas coisas e aos momentos partilhados.
Todos somos, mais ou menos, egocêntricos. Achamos sempre que a nossa dor é diferente da dor sentida pelo outro. Na verdade a dor é uma só, com milhares de rostos, somente exteriorizada de modo distinto, de acordo com as raízes culturais de cada um e com a capacidade pessoal em lidar com ela.

Mas, ponderemos um pouco: somos seres com compaixão? No sentido lato, não creio. Não me refiro à compaixão subjacente às religiões.
Refiro-me, sim, à compaixão que existe em nós, à nossa disponibilidade interior para nos darmos aos outros, tão  pouco visível ainda,  tão pouco praticada, nesta Sociedade cada vez mais solitária, na qual se morre de solidão...
E morre-se de solidão nos grandes centros urbanos, em casa, num qualquer canto na rua... Porquê? Porque estamos distantes uns dos outros, exactamente por falta de compaixão.
Se todos pudéssemos fazer um esforço para aprofundar os sentimentos da partilha, da proximidade e do altruísmo, saberíamos viver com compaixão.
É, através da compaixão, que as Sociedades se poderão tornar mais justas, mais humanizadas, mais fraternas e mais fortalecidas.


Autora: Isabel Vilaverde
Maio 2010

Desenho: Autor desconhecido.


segunda-feira, 24 de maio de 2010

COMO SÃO OS LAÇOS FAMILIARES HOJE EM DIA




           Os afectos são, por vezes, relegados para segundo plano e o sofrimento instala-se. São os nossos familiares mais directos que sentem essa realidade. O mundo dos afectos tende a ficar esquecido face ao mundo da competição desenfreada, da realização profissional, do status social. O ter, o parecer, passou a ser o centro das preocupações de muitos. São estas algumas razões pelas quais gravitam à nossa volta tantas pessoas insatisfeitas e infelizes.
            Se a realização profissional é importante na vida de cada um de nós, a família deve ser tão ou mais importante. Amarmos mais, reflectirmos sobre a nossa insatisfação, é  sabermos encontrar o tal caminho para a felicidade.
O tempo corre e quantas vezes o desperdiçamos com futilidades, quando o poderíamos direccionar para o mundo dos afectos...
Chegamos a casa cansados, depois de mais um dia de trabalho, perguntamos à pressa aos nossos filhos ou companheiros(as) como correu o dia e, ainda estes não responderam, já estamos a virar costas, numa atitude de manifesto desinteresse pelo outro. O tão falado stress instala-se, subtilmente, intromete-se nas nossas vidas e  prejudica-nos de tal modo que nem nos damos conta.
O mais preocupante é que pouco fazemos, também, para combater as atitudes geradoras da mencionada instabilidade emocional que acaba por nos conduzir ao sofrimento.
Contudo, reconhecemos, de vez em quando, que não estarmos bem, mas o encolher de ombros surge, porque nos deixamos envolver nos tentáculos perniciosos do stress, perdendo o sentido de melhor viver e deste mosaico incrível que é o mundo, tão pleno e tão rico.
           Saber estar, sentir, ouvir, apreciar com tempo e com calma. Observarmos a vida, na sua essência, saber ser espectadores de nós próprios, é necessário para procurarmos a causa dos nossos medos, das nossas inseguranças e insatisfação, e retornarmos o caminho da paz e da serenidade.
A vida é uma dádiva perfeita, que temos o privilégio de usufruir, mas quantas vezes a desvalorizamos...
Os laços familiares são, hoje em dia, mais ténues. Há um afastamento visível entre pais e filhos, entre cônjuges, imposto pelos imperativos da vida actual, que é preciso combater. Não há tempo para o outro. Passamos a vida a dizer: "não tenho tempo para isto...". As preocupações, as dores, as decepções, agudizam-se ainda mais  na ausência do diálogo. As pessoas sentem-se mais sós, a viver uma espécie de "voto de silêncio" forçado.
           Como escreveu, certo dia, um amigo meu: "A Sociedade ensina a vencer na vida, a ter êxito, mas não ensina a amar...".
         É verdade. A Sociedade transforma-nos em seres automatizados. As emoções perdem-se neste fervilhar, neste corre-corre de horários a cumprir e de tarefas a executar.
Subjugados e ausentes, agimos, cumprimos, e quase nunca paramos para questionar.
Reflictamos, pois, um pouco mais.  Estreitemos os laços familiares porque a família é a base, o sustentáculo imprescindível para nos afirmarmos como pessoas inteiras e felizes.

Até breve,

Autora: Isabel Vilaverde
Maio 2010






sábado, 22 de maio de 2010

AO QUE DAMOS VALOR HOJE EM DIA


      Ao que damos valor hoje em dia, é uma reflexão que faço muitas vezes. Numa sociedade cada vez mais exigente e competitiva, na qual somos "treinados" para vencer, para sermos "o" ou "a" melhor entre os melhores, caímos na teia, quase inevitável, da abstracção dos valores base, fundamentais à formação do ser humano.
      Nas filosofias orientais, por exemplo, apela-se à serenidade, à calma mental e ao equilíbrio. A sabedoria, é o caminho para atingir a felicidade. Segundo a filosofia Budista, é da sabedoria e da compaixão que provém a lucidez de poder usufruir de tudo, em termos materiais, sem se ficar ligado a nada.
      Actualmente somos inundados com "montanhas" de publicidade, cada vez mais apelativa, quer seja através dos "Media" ou da Internet ou de cartazes colocados, estrategicamente, nas grandes superfícies comerciais e noutros locais públicos. Somos, mesmo sem o querer, apanhados nessa enorme teia que nos absorve e suga os nossos pensamentos mais puros... Mostra-nos, muitas vezes, à distância de um clique ou de um simples gesto, o caminho para a felicidade que julgamos obter, através da compra do carro desportivo, da casa dos nossos sonhos, das férias de luxo... Slogan: "a conquista da felicidade através da conquista material..."
O que conquistamos, isso sim, é ansiedade, instabilidade e sofrimento.
Fazer depender a felicidade dos bens materiais, centrarmos a luta do dia-a-dia na sua obtenção, é um erro. Quanto mais o fizermos, menos hipóteses temos de ser felizes. Chegados aqui, não precisamos de evocar os inúmeros exemplos que ilustram bem esta realidade.
A felicidade é como um gráfico. Depende da nossa vivência interior, dos momentos de exaltação, do nosso bem-estar físico e emocional.
      Amar, aceitar, agradecer o que temos e valorizar quem somos. Evidentemente que só os valores essenciais à formação do ser humano, são os responsáveis por uma existência mais feliz e uma felicidade mais duradoura. A proximidade, a tolerância, a consciência e a aceitação dos nossos defeitos, implica a aceitação dos defeitos dos outros e, consequentemente, que não somos perfeitos.
Na proximidade, estabelecemos e desenvolvemos laços de afectividade. Na tolerância, aceitamos as diferenças, contribuímos para uma sociedade mais humanizada, ao desenvolvermos sentimentos altruístas. Exercemos, assim, uma melhor interacção com todos, quer sejam os nossos familiares, amigos ou colegas de trabalho.
Procurarmos sempre ter uma atitude positiva, assertiva perante a vida, mesmo nos momentos mais difíceis, cuja inevitabilidade toca a todos, como parte do nosso próprio percurso e crescimento.
      Os filósofos gregos diziam que, uma vida boa passa pela felicidade com lucidez, e pela sabedoria com acção. Um pensamento perfeitamente aplicável ao presente. Pensar - Sentir - Agir, eis o trinómio para atingir o objectivo.
E, voltando aos valores fundamentais que devem nortear os nossos comportamentos, verificamos que por tudo o que se disse, valorizamos, infelizmente, mais o "acessório" e menos o "essencial".
Passemos, pois, a fazer no nosso dia-a-dia, o oposto.


Isabel Vilaverde
Maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

MULHER-ESTÁTUA DE ALMA NUA



Jazia sentada de vestes finas
E pele arrepiada,
Olhar afixo, ausente,
Sob a luz difusa das estrelas
Que a noite branda deixava espreitar.
Os lábios, num murmúrio vago,
Soltavam sons inaudíveis
Que só a alma dormente sabia escutar.
Gotas cristalinas bordavam a face,
Como ribeiros de água fresca fecundando as pedras,
Caminhos serpenteados de pureza virginal.
A brisa, suave e leve, secava-lhe, docemente, o rio de saudade.
Ali permanecia sentada, mulher- estátua de alma nua,
Cheia de sonhos por desbravar,
Plena de palavras e de silêncios por desflorar,
Coração minguado à espera que o Sol nascesse,
Lhe trouxesse um abraço envolvente
Ao acordar das manhãs...
Beijos perfumados de flores de jasmim,
Um amor diáfano que rasgasse entranhas,
Que percorresse caminhos
E derrubasse montanhas...
Jazia sentada de vestes finas
E pele arrepiada,
Braços prostrados num regaço vazio,
À espera de outros braços
Que a resgatassem do frio!

Autora: Isabel Vilaverde
(@Todos os Direitos Reservados).
Maio de 2010

Imagem: Google.

sábado, 15 de maio de 2010

NO SUL DA MINH' ALMA


Acordam madrugadas
Vestidas de vento e chuva
E lá, no sul da Minh' alma,
Fico quieta, de pensamentos vagos...
Repouso, leve, as minhas mãos nas tuas...
Observamos demoradamente as luas
Que nos envolvem o olhar triste,
Lá, no sul de outros mares agrestes,
De barcos naufragados e portos vazios,
De sonhos distantes e abraços ausentes,
Deito-me e adormeço a minha solidão.

Written by: Isabel Vilaverde
Maio de 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

VAGUEIO MUNDOS


Por vezes desencontro-me de mim,
Parto em busca de outros mundos,
De outros sentires e olhares,
Navego oceanos e mares...
Descubro montanhas silenciosas,
Vales escondidos vazios de corpos,
Penetro na vegetação virgem e densa
E sinto-me verdadeiramente livre...
Sem amarras nem violência,
Pássaro liberto
Que em plenitude voa...
Busco um mundo de laços fraternos
Que o Homem ousa negar,
Na solidão das horas deixo-me ficar
Tão longe de tudo...
Encontro-me com a verdade,
A paz paira sobre mim...
Desato o nó na garganta
Sequiosa de liberdade,
Fundo-me no Universo
Para cumprir meu fado,
Com alma e emoção
Amo sem amanhã...
Porque o hoje é já bastante!
Prendo-me e desprendo-me de mim,
Vagueio mundos, errante...
Trago no coração um luar de amante,
Amo com compaixão,
Todos e cada um.

Written by: Isabel Vilaverde
Maio de 2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

BREVE


Olho-me ao espelho,
Mostro apenas metade de mim,
A outra metade
Busco-a incessantemente
Num desalento sem fim,
O que procuro não sei...
Dobro caminhos,
Rasgo sonhos apavorada,
Entre noites e solidão
Adormeço cansada...

Olho-me ao espelho,
E chego a ter medo
De me ver transfigurada,
Como a folha que seca e cai,
Sem vida pelo vento levada,
Visto o corpo de seda pura,
Sinto-a deslizar na pele nua
E o arrepio percorrer-me...
Passo as mãos pelos cabelos
Num gesto leve...
Espero o tempo de amar
Me seja breve.

Written by: Isabel Vilaverde
Maio de 2010
 
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