domingo, 14 de agosto de 2011

DOMINGO


Hoje é Domingo. Não gosto dos Domingos. Apesar do silêncio que se sente aos Domingos, e eu gosto do silêncio, ele pesa-me.
Revisito as minhas memórias. Sinto a falta das tuas gargalhadas, dos pequenos "nadas" que me faziam feliz. Levantávamo-nos, mais tarde. Um de nós preparava a bandeja com os pequenos-almoços. Preguiçosamente, encostávamos as macias almofadas à cabeceira da cama e sentávamo-nos, plenos de felicidade, a degustar esses momentos verdadeiramente íntimos, verdadeiramente nossos.
Falávamos, despreocupadamente, de nós, do nosso amor, com um brilho no olhar. Recordávamos a entrega, um ao outro, dos nossos corpos, serpenteados por ondas de prazer,   nos finos lençóis amarrotados. A noite  fazia-se longa, até o pipilar dos pássaros se ouvir, prenunciando o acordar do dia. Como era bom sentir essa sensação de pertença. Como era bom viver esse amor partilhado e cúmplice. Como era bom sorrir-te e amar-te, sem esperar o vazio que uma noite, mais fria do que todas as outras, trouxe à minha vida. Espreito a janela indiscreta da saudade... Um dia fechá-la-ei, tenho a certeza, quando abrir novamente a porta do coração para receber a visita de um amor digno, que me subleve do tempo das folhas de Outono, jazidas pelos caminhos que percorro, na ausência e na esperança.
Hoje é Domingo. Não gosto dos Domingos, já o disse. Lembram-me os nossos silêncios, que o silêncio dos Domingos transformou em grito.


Written by: Isabel Vilaverde
14 Agosto 2011

sábado, 6 de agosto de 2011

AOS MÁRTIRES DE UTOYA (NORUEGA)


Diz-me, Deus, se existes
Porque deixas naufragar
Neste mar, os meus sonhos?
Só esperava de ti, amor
Poder deixar esta terra, a sorrir!
Preciso acreditar num mundo novo,
Sem ódios, sem invejas, nem sonhos a ruir,
Nem rios de sangue a correr,
Quero encontrar-te na paz dos arvoredos,

Na imensidade dos mares,
Nas montanhas, nas nuvens
Nos luares,
No encontro das almas sem cores,
Nos gestos de ternura,
Na suavidade das palavras,
E soltar risos e dar abraços,
E acreditar num mundo onde a vida
Seja um bem inestimável, não se banalize,
Seja uma força que derrube a insensatez da morte,
O sofrimento e as crenças cegas, sem norte!
Quero sentir-te no aroma das flores,
Ouvir-te, no canto alegre dos pássaros,
Viajar-te no labirinto das cidades,
Sem medo ou lágrimas inúteis,
Não quero silenciar-me à vossa dor,
Os vossos sonhos ruíram sob o silvo de balas certeiras,
Da frieza do gesto, um mar de sangue correu,
E o grito ecoou no mundo inteiro,
Porquê tanto ódio, em vez de amor?
A cada mártir ofereço uma flor e, como mãe,
Um céu chuvoso, um cântico triste em vosso Louvor.


Written by: Isabel Vilaverde
Julho 2011
 
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