segunda-feira, 28 de junho de 2010

DOS LÁBIOS DOCE MEL


Sinto um torpor percorrer-me o corpo,
Procuram-te os olhos na ânsia de te ver,
Desejo vão que a noite esconde,
E o sonho mata lento...
Encontro-te finalmente na poesia,
E canto, nos versos que escrevo, o teu sorrir,
O sonhar das tuas mãos nas minhas apazigua-me,
Desejo viver com sentido e emoção esta vida,
De verso em verso, procuro a razão deste vazio a que retorno sempre,
Sinto frio...
Abraça-me noite, em raios de luar e carinho,
Envolve de mansinho o corpo que te procura,
Guardo no peito este amor puro,
Talvez um dia as minhas noites se vistam de paz,
E os dias transbordem de alegria por te receber,
Dos lábios, doce mel, brotem palavras, as que ficam agora por dizer.


Written by: Isabel Vilaverde
Junho 2010

quinta-feira, 24 de junho de 2010

SONO... SONHO


Sonho perfeito vigias a minha dor,
Imaculado de pecado, toca-me um amor ideal,
Vagueia no crepúsculo etéreo da minha alma,
Sonho, acalentas a esperança que o romper do dia reduz,
Quero ficar no teu sono perpétuo,
Onde o labirinto tortuoso do passado já não me faz chorar,
Sono, sinopsia da minha paz,
Génese do tempo, dicotomia da vontade,
Sonho, deixa-me ficar na busca da verdade,
Nessa simbiose perfeita, entre o ser e o estar,
Metamorfose do querer, entre o desejo e a felicidade,
Clivagem entre a abstracção e o poder,
Sono, deixa-me ficar prisioneira deste sonho, deste tempo de amar.


Written by: Isabel Vilaverde
Maio de 2010

sábado, 19 de junho de 2010

IN MEMORIAE - JOSÉ SARAMAGO (1922-2010)


Hoje estou triste... perplexa,
O riso partiu dos meus lábios,
Senti na carne o rasgar da lâmina,
E o coração abriu-se em pétalas de emoção,
Braços tolhidos de abraços por dar,
Se um dia os meus passos os teus pudessem encontrar...
Deixaste os meus olhos suspensos de um olhar vazio...
Hoje, levaste para sempre as palavras  e a saudade deixaste
No meu peito a morar,
As lágrimas  lavam-me o rosto aflito,
Mas sinto-te próximo, tão próximo,
A força da palavra nunca morre!
Guardo-te vivo nas obras que leio e penso contigo.

Written by: Isabel Vilaverde
18 de Junho de 2010

SINGULAR E GRANDE (Homenagem a José Saramago)


Olhas, sereno, cada pedra do jardim,
Sentado, de braços cruzados,
Observas as flores minúsculas que rompem, incrédulas,
Por entre as outras de encanto sem fim,
Passeias os olhos pelas árvores, uma a uma,
Abraça-las em jeito de despedida,
E pensas no tudo e no nada, na morte e na vida,
Na palavra dita e na que fica por dizer...
E agradeces, não a um Deus, mas aos homens de boa vontade
Que te prolongaram a vida,
Para que pudesses escrever,
Mais umas  palavras de tantas que tinhas por dizer...
Num momento  o teu corpo adormece no sono perpétuo,
Fica dentro de nós a consciência desperta,
De um dos escritores maiores que sempre serás,
Trabalhador da palavra, arquitecto da razão,
Amigo dos que não têm voz, Homem do mundo,
Singular e grande,
Por ti chorará o meu coração.



Written by: Isabel Vilaverde
18 de Junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

HOMENAGEM A JOSÉ SARAMAGO


Se pudesse olhar-te nos olhos...
Dir-te-ia o quão grata estou por te ler,
Falar-te-ia da alegria imensa sentida por beber as tuas palavras,
Por partilhar das tuas ideias,
Por me inquietar com as tuas reflexões,
Albergo, no peito, um sentimento imensurável
De admiração por ti,
Foste um grito de luz, uma inspiração permanente,
Na defesa dos valores
Do pluralismo e da liberdade,
Da solidariedade e do amor,
Mais do que "o não ser"
Era para ti, "o não estar..."
Mas digo-te, com toda a propriedade
E de coração aberto,
Estarás sempre presente,
É perene o teu ficar na obra que deixas,
Na memória que guardo de ti,
E hoje, sim, hoje, dia da tua viagem sem retorno,
Sinto-me  muito mais rica e feliz por teres existido.
OBRIGADA, JOSÉ SARAMAGO!

Written by: Isabel Vilaverde
18 de Junho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010

OBRA INACABADA


Eu sou a obra inacabada... e tu contemplas-me,
Gostas de mim,
Então gostas da minha imperfeição,
Perfeito...!
E sabes o que quero ser e não sou,
Gostas da minha transmutação,
Abstraio-me, ausento-me,
Regresso e caio, levanto-me,
Invento um mundo feliz mas choro...
Sonho acordada, mergulho no nada,
Risco aqui, preencho ali,
Rasgo acolá, remendo além...
Ganho coragem para seguir nesta viagem,
Pinto na tela da vida o tudo e o nada,
E mesmo assim contemplas a minha obra...
Eu estou nela, e tu és o fio condutor que vem até mim,
Sinto-te presente,  sei que és diferente,
Porque compreendes e aceitas a minha imperfeição!
Eu sou a obra inacabada, o motivo da tua contemplação.

Written by: Isabel Vilaverde
Junho 2010

sábado, 12 de junho de 2010

PARTILHAR SILÊNCIOS



Não escrevo todos os dias, como gostaria. Há dias, até, que os pensamentos correm de tal modo velozes e desordenados, que não consigo transcrevê-los para o papel. Fico, então, serenamente a escutá-los, como uma aluna, atenta, escuta o seu professor.
Quando o dia sucumbe, acorda em mim a vontade de me tornar íntima desse branco imaculado. Em grafia imprecisa, escrevinho o que me vai dentro. Fascina-me a noite, as luzes, as sombras, os contornos indefinidos, a cidade adormecida... E as emoções emergem, tumultuosas, do meu ser. Finjo que estás aqui... que me olhas apenas com esse olhar cúmplice de quem sabe partilhar silêncios...
Fazes-me falta. Saber que, mesmo longe, estavas comigo a qualquer hora...
O que é o tempo? A distância? Senão um lamento sussurrante da saudade que sentimos quando amámos alguém... Eu amei-te, sim. Ainda te amo.  Hoje a saudade mora em mim. Não sei se para todo o sempre, não sei... Apenas sei que te guardo, como uma doce recordação, porque ajudaste a iluminar a minha vida.


Written by: Isabel Vilaverde
12 de Agosto de 2009
(@Todos os Direitos Reservados).

Imagem: Google.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

DOCE MOMENTO


Nas veredas do teu corpo acorda-me o desejo de amar,
E no intervalo de um beijo outro beijo te quero dar...
Visto-me de seda e paixão, iluminam-se os cabelos de luar,
Procuro os afagos das tuas mãos, e os teus braços fortes como o mar...
Deito-me em ti, doce momento,
Esqueci a dor, perdeu-se no tempo,
Tudo em mim floresce e ri, ao guardar-te dentro de mim...
Meu pássaro libertador,
E é de olhares e silêncios, de espinhos, rosas e incenso,
Que construímos o nosso amor.

Written by: Isabel Vilaverde
11 Junho 2010

domingo, 6 de junho de 2010

GAIVOTA FERIDA


Gosto mais de ver-te ao pôr-do-sol, mar...
Escutas as minhas angústias,
Aninhas-me nos teus braços de espuma leve,
Mar... que guardas  minhas lágrimas em ti,
E me beijas como o Sol beija a montanha,
Não sei se hei de cantar-te,
Pela paz que me transmites, oh mar...
Se hei de amar-te como meu berço,
Ou sonhar dentro de ti, deixando-me ficar...
Perder-me, para sempre, de palavras e  pensamentos, fechar os olhos às tuas marés,
Aos poentes laranja do Sol,
À saudade e aos ventos que me empurram
Para onde não quero ir...
Ficar dentro de ti... despir-me da solidão que me assola
Como amarras enegrecidas,
Presa a um porto sem barco, sem timoneiro,
Partir desta vida que me sufoca...
Que posso ainda esperar?
Gaivota ferida que na praia repousa esquecida,
Esvaecendo suspiros em tons de despedida,
Ante o silêncio e o mar.

Written by: Isabel Vilaverde
6 Junho 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A SOLIDÃO DE MARIA


Uma sensação de impotência e desânimo abateu-se sobre a Maria. Deambulava pelas ruas, pela calçada de pedras irregulares, sentia os pés doridos de tanto caminhar. Caminhava sem destino. A cidade, gigantesca, de prédios altos, cheia de carros, de rostos anónimos, de olhares que se cruzavam, sufocavam-na. 
Os pensamentos causavam-lhe desgaste, sentia-se desesperada, queria encontrar uma saída mas as portas fechavam-se, uma a uma... Olhares cordiais mas frios, palavras gastas, repetitivas, ouvidas vezes sem conta ou, simplesmente, a ausência delas, denotando a mais profunda insensibilidade... Tudo isso lhe roubava a vontade de continuar a viver.
Só e sem o apoio de um companheiro, dos pais, de uma família, cheia de medo pelos filhos que dela dependiam, um deles doente, sentia cada vez mais perto as garras do desespero a cercá-la, a açoitá-la impunemente. Passavam-lhe pensamentos tristes pela cabeça. Procurava uma solução para os seus problemas, mas o desemprego tinha-a atirado para o fundo do abismo, lamacento e poderoso.
Naquele dia, pensou que a porta aonde iria bater se abriria, finalmente. A Maria pensou, levou a esperança consigo, mas a porta apenas se entreabriu para, logo a seguir se fechar.
Uma cidade enorme, tanta gente... e ela tão só, sem saber para onde ir, onde procurar mais, o que fazer.
Tentava preservar a dignidade, a custo, viver de aparências... Sabia que a Sociedade maltratava, marginalizava, condenava sem pudor, fingia aceitar as diferenças sociais mas, no fundo, era hipócrita e redutora.
Havia quem, supostamente, deveria exercer o papel mediador de ajuda, de aconselhamento e orientação, para a abertura de novos caminhos,  e prestar a assistência de que Maria e a sua família careciam. Ao invés, e sem que ela entendesse, esse alguém, exercia uma perseguição e pressão cerradas, intencional, com o propósito de espezinhar e atentar contra os mais elementares direitos, consignados na Constituição da República Portuguesa: o direito à sua privacidade e intimidade de sua casa, fazendo-se valer de uma lei estúpida e inconstitucional, que há muito deveria ter sido revista, na sua forma e conteúdo. Esse alguém, demonstrava nas abordagens a Maria o mais profundo desrespeito por ela e pelos seus filhos, não se importando com o sofrimento de uma família.
Ela queria gritar, mas já nem forças tinha. Estava a desistir de tudo...
Amigos, no sentido literal do termo, não tinha. Perdera-os com o divórcio ou melhor, nunca os tivera, verdadeiramente. Os amigos, quando verdadeiros, permanecem nos momentos de maior aflição.
Tinha-se tornado uma mulher solitária e o desespero apoderara-se de si, como tentáculos de um polvo a apertá-la, a roubar-lhe os sonhos, o desejo de ser feliz.
Maria era uma mulher muito bonita, por dentro e por fora. Era preciso conhecê-la para que se apercebessem da sua generosidade. Quando não se sentia ameaçada, abria as portas do seu coração, era  uma pessoa doce, uma simpatia, uma mulher com um enorme sentido de responsabilidade.
As vicissitudes da vida, levaram a que nem sempre tivesse feito as melhores escolhas, quer por imaturidade, mau aconselhamento ou pressões familiares. Agora sofria na pele as consequências.
Um casamento desfeito, um marido que fora prepotente, opressor e agressor, e os filhos com que ficara.
Ela vivia a maior das solidões e pensava pôr termo à existência. Estava à beira da loucura, perdida, numa cidade onde tantas pessoas se cruzavam, alheias ao seu sofrimento, onde a ausência dos afectos, de uma mão verdadeiramente amiga, era uma realidade pesada.
O que poderia representar para a Sociedade? Que valor teria? Teria valor, sim, apenas para os seus filhos... para mais ninguém. Para o Estado, seria apenas mais um dado estatístico, um número...
E o Governo apregoava, à boca cheia, através do seu representante, o Sr. Primeiro-Ministro, Engº. José Sócrates, que a crise era uma miragem, um devaneio da oposição, que iria cumprir as metas do crescimento económico e que as estatísticas não eram fiáveis... Que o desemprego estava a baixar... Que os grandes investimentos tinham  que se cumprir, a bem do progresso e de um país moderno...
Não, Sr. Primeiro-Ministro! Um país cada vez mais pobre, um país de muitas Marias sofredoras, um país à beira do colapso social, um país de pobreza envergonhada, de famílias desesperadas, um país de seiscentos mil desempregados, por enquanto... Portugal, o meu país!!


Written by: Isabel Vilaverde
Junho de 2010
 
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