domingo, 14 de agosto de 2011

DOMINGO


Hoje é Domingo. Não gosto dos Domingos. Apesar do silêncio que se sente aos Domingos, e eu gosto do silêncio, ele pesa-me.
Revisito as minhas memórias. Sinto a falta das tuas gargalhadas, dos pequenos "nadas" que me faziam feliz. Levantávamo-nos, mais tarde. Um de nós preparava a bandeja com os pequenos-almoços. Preguiçosamente, encostávamos as macias almofadas à cabeceira da cama e sentávamo-nos, plenos de felicidade, a degustar esses momentos verdadeiramente íntimos, verdadeiramente nossos.
Falávamos, despreocupadamente, de nós, do nosso amor, com um brilho no olhar. Recordávamos a entrega, um ao outro, dos nossos corpos, serpenteados por ondas de prazer,   nos finos lençóis amarrotados. A noite  fazia-se longa, até o pipilar dos pássaros se ouvir, prenunciando o acordar do dia. Como era bom sentir essa sensação de pertença. Como era bom viver esse amor partilhado e cúmplice. Como era bom sorrir-te e amar-te, sem esperar o vazio que uma noite, mais fria do que todas as outras, trouxe à minha vida. Espreito a janela indiscreta da saudade... Um dia fechá-la-ei, tenho a certeza, quando abrir novamente a porta do coração para receber a visita de um amor digno, que me subleve do tempo das folhas de Outono, jazidas pelos caminhos que percorro, na ausência e na esperança.
Hoje é Domingo. Não gosto dos Domingos, já o disse. Lembram-me os nossos silêncios, que o silêncio dos Domingos transformou em grito.


Written by: Isabel Vilaverde
14 Agosto 2011

4 comentários:

  1. O silêncio traduz-nos formas sublimes de ser! Os gritos do silêncio, neste texto maravilhoso, alimenta-nos os vazios do que seria esse silêncio se não fosse escrito...
    Obrigada, eu gosto MUITO de ler o que escreve. (sinto muito de perto, não a sua dor sozinha, ... talvez uma dor partilhada que se abraça a tantas outras! ...)

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  2. Muito obrigada, minha mui querida amiga São Rosa.
    Um beijinho.

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  3. Prezada Senhora, D. Isabel Vilaverde, o soberbo "retrato" que, através de excelsas palavras desenhou, verte, em cada sílaba, a doce convulsão da nudez do Amor.
    O Amor em pura "carne-viva".
    Ante tão sublime descrição de momentos ataviados pelo nobre sentimento que perpassa a frieza deste "vidro", só lamento não existir neste espaço terreno um passe-partout onde condignamente pudesse emoldurar o soberano "retrato" que exala o bálsamo venerável e só consagrado pelo Amor.
    Deixo a minha mais sustentada felicitação...

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  4. Muito grata, meu mui estimado amigo, Carlos Gamito. Deixo-lhe um beijinho...

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