terça-feira, 10 de agosto de 2010

O TEU CHORO DÓI


Acocorou-se, pés descalços,
Junto a um buraco,
Fez uma conchinha com as mãos
E bebeu, sôfrego, a água suja
Da chuva que ali ficara.
Acalmou a sede,
Mas a fome sacudia-o de tal modo,
Que se deitou sobre as pedras
Por não aguentar mais as dores.
Os transeuntes passavam,
Com passos lentos ou apressados,
E quando um lamento surgia,
Abanavam as cabeças e seguiam as vidas,
Sem interrupções ou desvios...
Alguém cuidasse destas crianças!
Quantas crianças neste mundo, mosaico de contrastes,
De miséria exposta ou escondida,
De vaidades umbilicais...
Pequenino botão, de cabelos ao vento,
Olhos grandes de espanto, olhar de sofrimento,
Sem saberes porquê, vives na dor,
De braços estendidos, pedes somente amor,
Corpinho franzino de vestes puídas e sujas,
O teu choro dói no meu peito,
Que dor ver-te assim tão maltratado,
Pergunto-me, qual foi o teu pecado?
Sofres na espera de um colo para te acolher,
Nasceste para ser amado,
Mas és desprezado, pequenino Ser.

Written by: Isabel Vilaverde
Agosto 2010

1 comentário:

  1. Sede de amor, sim. Numa sobrevivência desumana a que cada transeunte já se habituou...

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