segunda-feira, 4 de novembro de 2013
NÃO CHORES VAMOS VOLTAR
O pequeno Luís, uma criança de seis anos, olhava, incrédulo, os olhos da mãe cobertos de lágrimas densas que, rapidamente, se transformaram em torrente, lavando o rosto enrugado, precocemente envelhecido, de uma mulher de trinta e nove anos.
- Mãe, não quero ficar aqui. Porque é que tenho de ficar aqui? Não, quero ir contigo!
O menino, alheio ao drama dos pais, queria apenas poder estar com eles e brincar no seu pequeno e humilde espaço, o que sempre conhecera; a sua casa, o seu aconchego. Os pais, ambos desempregados e com os subsídios de desemprego terminados, lutavam, todos os dias, para darem ao Luís e a mais três filhos o mínimo que lhes era possível para não passarem fome. O tempo de espera, sem conseguirem um trabalho, foi aumentando a angústia e forçando a tomada de decisões. Pouco a pouco a família foi-se separando. Os filhos, um a um, foram sendo distribuídos, quase como mercadoria, pela casa de outros familiares que, embora com fracos recursos também, os foram acolhendo. Ficou o mais novo, o Luís. Bateram a todas as portas. Fizeram o possível e o impossível para mudar a sua condição de desempregados. Sem apoios suficientes, restou-lhes tomar a única e dolorosa decisão. E hoje, estes pais, tomados de uma emoção inenarrável, percebiam que não era possível ficar com o seu benjamim.
Fizeram o percurso, a pé, no mais pesado dos silêncios. Maria premiu o botão da campainha ao lado do portão de ferro da Instituição. Entraram, sempre com o Luís pela mão. Conduzidos a uma sala e depois de preenchidos os papéis, chegou a hora da despedida. Queriam muito que a separação, forçada, fosse breve. Queriam muito que a sua condição mudasse para que o menino voltasse, tal como os outros filhos, e se sentissem novamente uma família. Isto se o seu acto não viesse a ser considerado abandono de um menor aos olhos da legislação e não tivessem que, futuramente, lidar com toda uma máquina burocrática de leis, por vezes estúpidas e inúteis, que mais não seriam do que muros intransponíveis, erguidos sobre uma aridez total de sentimentos. Nunca iriam assinar um termo de adopção, nunca! Entregavam o Luís porque não queriam que passasse fome. Hoje separavam-se das suas traquinices, das suas tropelias, da sua vivacidade, da sua doçura e, sobretudo, do seu olhar que os marcaria para sempre, como ferro em brasa cravado na pele, no momento de o abraçarem e de lhe dizerem, de coração minguado pela dor : «Adeus meu querido filho, até breve. Amamos-te muito. Não chores, vamos voltar.».
Autora: Isabel Vilaverde
4 de Novembro de 2013
(@Todos os Direitos Reservados)
Imagem: Google.
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