Não estou certamente enganada. É um lobo solitário. Almoçou, tranquilamente, sentado a uma mesa ao lado da minha. Sujeito de compleição magra, face enrugada e cabelo grisalho. Estatura mediana e olhar inquieto. Meneia a cabeça muitas vezes, demasiadas vezes, e gesticula, creio, sem se dar conta.
Hoje almoçou lombo assado com batatas fritas e arroz, dose a dobrar de hidratos de carbono, o habitual dos almoços à pressa, entre horas de trabalho e bebeu uma imperial. Rematou o almoço com uma mousse de chocolate.
Levantou-se, em seguida, dirigindo-se à saída sem que, antes, num gesto mecânico e ainda dentro do snack-bar, tenha acendido o maldito cigarro. Certamente um prazer do qual não prescinde, haverá anos, mas que me incomodou quando o cheiro a nicotina me chegou às narinas, aprimoradas na detecção do mais indelével indício do repudiado tabaco. Abriu a porta e, de cigarro ao canto da boca, saiu meneando a cabeça, sem dúvida um tique adquirido por anos de solidão...
É um lobo solitário, entre uma matilha de indiferentes onde se fala, se gesticula, se passa ao lado da vida, por vezes, num viver de ilusão, onde todos, à maneira de cada um, permanecemos escondidos dentro das nossas próprias conchas.
Talvez este lobo solitário esteja mais próximo de Deus e da sabedoria do mundo.
Autoria do Texto: Isabel Vilaverde
28-06-2017
(@Todos os Direitos Reservados).
Imagem: Google.